Menos

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 20/05/2021 |
Categorias: Chutebol20anosEducaçãoFutsal

Numa atividade recente, online, na qual convidamos a meninada para assistir juntos a um jogão da Champions League e bater um papo na telinha – a famosa ‘resenha’ – nos deparamos com a seguinte situação: eles não se satisfaziam em ver um jogo, e sim dois. Ao mesmo tempo.

Um passava na televisão, tradicional; o outro era transmitido pelo facebook. Nada disso foi combinado, apenas o movimento natural dessa geração, como dizem, ‘multi-task’.

Com o passar dos minutos percebi um desconforto em mim mesmo, que pouco depois fui saber era compartilhado pelo pessoal do século XX – os outros professores. Quando entendemos o que se passava, fizemos piada no chat com a meninada: “E aí, como está jogando o time tal? Como se movimenta o lateral do time tal?”.

Como resposta, algumas frases prontas, umas bobagens ou até mesmo o silêncio. Fazia sentido.

Ver dois jogos de futebol ao mesmo tempo, evidentemente, é a mesma coisa que não ver nenhum. Essa hipótese nem passava pela minha cabeça, mas foi bastante natural para o pessoal que estava na resenha. Até que, provocados a aprofundar pequenas análises táticas ao alcance da idade, foram confrontados pelo próprio espelho – viam, mas não enxergavam.

Pudemos oferecer esse retorno, parecem ter gostado. Após finalizar, fiquei pensando na quantidade de demandas a que, não só eles, mas nós, temos sido obrigados a responder, e como nos habituamos a isso até em momentos de lazer, ou de possível descontração.

A capacidade de entregar-se a uma atividade;  fruir do tempo; esperar por um grande momento (um clímax, um gol) fica precária se não pudermos perder alguma coisa, perder o entorno ou as outras coisas, para nos dedicarmos de corpo e alma a um desejo específico. No caso, ver, realmente assistir a uma boa partida de futebol com seus altos e baixos.

Essa possibilidade em perder, no entanto, fica prejudicada se tudo parece muito importante. Lembrei da quantidade de crianças diagnosticadas com transtornos, com ‘déficits’ de atenção, com queixas de familiares e professores de que não se concentram. Ou mesmo as que não convivem com o peso de um diagnóstico.

Eleger as coisas e atividades realmente importantes costuma acalmar as crianças e assegurá-las de suas possibilidades, bem como do entendimento pessoal de suas virtudes e dificuldades. A ansiedade e dificuldade para direcionar a atenção sugere, para além de questões subjetivas, um mal-estar do tempo atual – que as próprias crianças e adolescentes denunciam com este tipo de sintoma.

Pensando, além de tudo, no drama da pandemia que ora vivemos, faria bem abandonar uns excessos pelo caminho.

Aquele abraço, saudações esportivas

 

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7 Comments

  1. Josias Rodrigues da Silva maio 20, 2021 at 11:06 am - Reply

    Eu tive o prazer de ver meu filho jogando e aprendendo com o Rodrigo e sua equipe
    Meu filho se sentia muito feliz quando estava no treino. E o principal disso tudo que as crianças não desenvolve só o futebol mas também com a parte psicológica. Porque além de ensinar o futebol, o Rodrigo conversava bastante e isso deixa as crianças à vontade e tranqüilas, jogando e fazendo amizades com seus parceiros e também com os adversários, sabendo que o futebol é um esporte e que devemos lutar pra vencer mas sempre com lealdade. Parabéns Rodrigo por esse super projeto Chutebol.

  2. Rodrigo Tupinamba Carvao maio 21, 2021 at 3:02 pm - Reply

    Salve amigo, obrigado! O Chutebol agradece o carinho e tem muitas saudades de Davi e família!

    Grande abraço

  3. Marola maio 21, 2021 at 3:04 pm - Reply

    Ótima reflexão, Rodrigo!
    A resistência à essas (e outras) armadilhas travestidas de liberdade é fundamental pra nossa saúde física e mental.
    Golaço!

    Forte abraço.

  4. Lucas Beuque maio 21, 2021 at 3:04 pm - Reply

    Excelente texto parceiro

  5. Marçal maio 21, 2021 at 3:05 pm - Reply

    Rodrigo,

    Compartilho inteiramente de sua opinião e me esforço para aplicar em casa.

    Abs

  6. Ana Holck maio 21, 2021 at 3:05 pm - Reply

    Oi rodrigo,
    É bem isso. E eles estão saturados de tela tb.

    bjs e obrigada por tantas reflexões importantes.
    Bjs

  7. Joanna Armada maio 21, 2021 at 3:06 pm - Reply

    Uau, Rodrigo.
    Fico muito feliz em saber que uma “simples” turma de futebol tem reflexões como essa para embasar o trabalho desenvolvido.
    Me surpreendeu positivamente e vamos combinar que isso não tem sido facil nos dias tão difíceis em que vivemos.
    Parabéns.
    um abraço,
    Joanna Armada

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