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Amém

Caros (as),

O blog Chutebol é fã do craque Tostão que, além de ícone do futebol brasileiro, é médico, psicanalista e escritor/colunista. Um pensador, enfim. Remexendo aqui e acolá desencavamos um texto dele do início do século que, como é comum nas boas obras, permanece atual.

Tostão, que é médico, parece saber bem do que fala. No lugar do deslumbramento diante do discurso da medicina, que joga o sujeito numa posição infantil e submissa (o deslumbramento, não a medicina, claro), ele usa da ironia, do bom-humor e de um humanismo inteligente. Porque para usufruir dos avanços tecnológicos não é necessário – muito menos desejável – deslocar o sujeito de suas responsabilidades perante a vida como ela é. Daí que este pequeno texto ganha relevância, na medida em que apresenta uma mistura de alhos com bugalhos muito bem-vinda, pois que convoca a nos havermos com o desacerto que é viver. Do futebol para o mundo. Boa leitura!
Se os genes permitirem
(…) Hoje existe uma supervalorização da genética. É onda. Tudo é genético: neurose, psicose, tristeza, alegria, escolha sexual, doenças, desonestidade, ignorância, normalidade (ser sempre normal também é um distúrbio emocional), minha preferência por sorvete de coco, fisiologismo, destino, etc.

A desumana elite econômica brasileira dirá que nossa miséria é geneticamente determinada.

No esporte, acontece o mesmo. São genéticas as confusões e o ciúme de Edmundo, a genialidade de Romário, a criatividade e a ruindade de alguns jogadores, a racionalidade de Parreira, o equilíbrio de Levir Culpi, a prepotência de Eurico Miranda, a chatice de Marcelinho, as reclamações de Felipão, o belo corpo de Ana Paula do vôlei etc.

A excessiva importância dada aos genes retira toda a responsabilidade do indivíduo por seus atos, desejos e destino. No futuro, as pessoas irão consultar seus genes para tomar decisões. Será que meu gene vai gostar? Será que combina com o do ser amado? Haverá sempre desculpas. ‘Não fui eu que fiz isso, foi o meu gene’. ‘Se quiser, processe meu gene’. Não esqueço do que me disse um paciente: ‘Não sou eu quem estou doente, e sim meu corpo’. Futuramente, será o gene.

Será que em nosso comportamento não têm importância o ambiente familiar e social, o desejo, os encontros e desencontros na vida, os sonhos e os mistérios? Claro que sim, dirão os psiquiatras biólogos, os positivistas e os racionais, mas somente se os genes permitirem. Amém.

[Do livro ‘A perfeição não existe‘ – Tostão, 2011. Crônica de 13/2/2000]

This Post Has 6 Comments

  1. Oi Rodrigo, tudo bem? Sou mãe do aluno Rodriogo Tostes, que não tem ido as aulas.
    Na verdade, o Rodrigo vai parar o futebol por um tempo. Gostariamos de passar aí para falarmos pessoalmente com você,que sempre foi um professor tão legal, mas ainda não conseguimos. Então resolvo escrever.
    Saiba que apesar de o Rodrigo ficado pouco tempo com vocês, ele aprendeu muito e não só sobre futebol. Foram experiências bem bacanas que contribuiram muito para o crescimento e conhecimento dele nesse período.

    Fica então nosso agradecimento a vocês do Chutebol, especialmente à você como orientador. Obrigada!
    Vamos continuar acompanhando o Chutebol, seus posts e essa escola que não é só de futebol. Parabéns pelo trabalho!
    Um grande abraço,
    Rosana Tostes.

  2. Rodrigo,
    Recentemente meu filho foi a duas festas de aniversário. Uma, não era só futebol, mas tinha um campinho onde o encontrei jogando quando fui buscá-lo: isso não acontecia antes, estava quase sempre agarrado ao videogame. A outra foi neste último Domingo e era principalmente futebol. Ele foi com um tio, pois não podíamos ir, mas nos contou que os amigos pensavam que ele ia jogar mal, mas depois disseram que jogou bem. Tenho certeza de que isso fez muito bem a ele e que já é efeito dos treinos no Chutebol, pois não há outra razão.
    Um abraço,

    Estêvão

  3. Olá Rodrigo,

    Mais uma vez gostei muito do texto que você compartilhou. Sempre refleti muito sobre a forma autoritário que muitos médicos se apropriam da vida dos seus pacientes, como se estes não tivessem a capacidade de gerenciar os seus corpos. Acho que a medicina , no fundo, tem justamente contribuído para que as pessoas se tornem cada vez mais irresponsáveis em relação à própria saúde. Por isso, sempre busquei o caminho das ditas “medicinas alternativas”.

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