Competir, navegar
O estresse imposto pela competição impacta crianças e adolescentes de maneiras diferentes, como temos mais uma vez percebido no período que estamos vivendo. A palavra ‘estresse’, nesse caso, não tem qualquer conotação negativa ou positiva, apenas denomina o conjunto de pressões (internas e externas) a que a pessoa se expõe na busca por superar adversários.
As crenças e o imaginário de cada um, sobre como acha que deve corresponder (e em que nível) influi diretamente no desempenho pessoal e nas reações em caso de vitória ou derrota – em especial nesta última, naturalmente. Vencendo, há um relaxamento e um alívio por ter correspondido (ou mesmo superado) o que se imagina, e isso permite a celebração.
O sorriso da vitória e o choro da derrota são naturais, e em ambos há aprendizado considerável dentro de quadra e na vida social mais ampla.
Os resultados e desempenhos são tão variados quanto os tipos de individualidades e equipes que se formam, com características que só vão se revelar com o passar do tempo e das disputas. Por mais que os treinadores busquem um equilíbrio teórico na montagem dos times, é o próprio desenrolar das partidas que dirá se ele corresponde à realidade, pois há características (pessoais e do grupo) que só emergem em momentos particulares na competição – e é bom que seja assim.
Na vida real também é impossível prever tudo, felizmente.
A maioria das crianças e adolescentes, quando expostos à competição, reage de maneira razoável nos bons e maus momentos, quando percebem que o ambiente é acolhedor e que podem se expressar. Outras, no entanto, podem ter uma decepção muito grande, ficarem desesperadas e comportarem-se muito mal em quadra – é quando ocorre um abismo entre o que ela imaginou (ou como ela se vê) e os resultados/desempenho pessoal e da equipe.
Se houver o contorno necessário, pode haver um ajuste de imagem benfazejo, no sentido de a pessoa, destronada de um lugar talvez muito alto em que ela mesma se colocou (questões de sua personalidade e/ou história familiar), reacomodar-se consigo. Esse ajuste da imagem de si costuma ser doloroso, mas é muito bem-vindo.
Um grande problema é quando há uma sequência grande de derrotas e não se sabe como sair dali. É uma espécie de pesadelo que deve ser atravessado junto, sendo a tarefa do treinador dar o suporte para a travessia, mesmo que se perca todos os jogos, em nome de finalizar a competição e cumprir seu papel com a integridade necessária.
É uma aprendizagem muito dura, no entanto com potencial educacional e afetivo proporcional à dificuldade imposta. Nestes momentos, o ideal é que os familiares, estando a par da situação, encorajem o jogador mirim a cumprir seu papel mesmo em situação tão adversa. Em nossa experiência, os times evoluem quando o objetivo passa a ser esse, em detrimento de um resultado que já se perdeu aparentemente.
Há vezes, no entanto, em que uma força inesperada surge deste novo pacto, e viradas sensacionais acontecem.
Nas vitórias também existe o aprendizado sobre como comportar-se; como saber comemorar sem debochar; sentir compaixão pela dor alheia; vivenciar a alegria valorizando genuinamente o que foi conquistado.
As características acima citadas também são percebidas nas competições de adultos. Estes também podem chorar, desesperar-se, comportar-se muito bem ou muito mal.
A experiência da competição é uma maneira legítima e desejável de dar vazão à agressividade humana, seus desejos, sentimentos e vontade de realização. Como num navio que parte, não sabemos como estará o mar até o final da viagem.
De todo modo, é melhor aprender a dar as mãos e a trabalhar em equipe até o próximo porto.
Aquele abraço, saudações esportivas
Que texto bacana! Obrigada!