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Congraçamento

Prezados (as),
É forçoso reconhecer: nestas Olimpíadas que se aproximam, o congraçamento dos povos se apresenta como um congraçamento armado. Longe de dar palpite em seara que não é a nossa (o grande xadrez político internacional), ao receber esta linda animação de John, Paul, George & Ringo – falando sobre o amor – apenas lembrei de como tudo isso pode impactar o mundo infanto-juvenil.

No universo fantástico dos Beatles, ao final, há uma espécie de redenção: The End. Como que pelo triunfo da paz e do amor universais. Ora, bem sabemos que jamais houve um mundo assim, e nem o mais romântico dos idealistas ou dos nostálgicos conseguiria sustentar alguma tese sobre o paraíso perdido de maneira consistente. The End é um sonho, uma aspiração humana; como tal, legítima.
No entanto, a brutalidade (e a velocidade) dos acontecimentos nos últimos tempos, embalados pelo tema do terrorismo, acabam por intimidar tais aspirações e culminar aqui, materializados em forma de paranoia nessa terra que – ave, Maria – já tem seus próprio males. Conhecemos nossa miséria e não me cabe espezinhá-la. 
O que é dolorido é apresentar o mundo assim às novíssimas gerações. Porque o momento olímpico supõe um descanso, uma pausa no mundo real para que possamos desfrutar do devaneio desportivo. Sim, claro, sempre foram necessárias medidas de segurança. Mas o que marca o momento atual é a imposição destas questões sobre o mundo do esporte. Causa mal-estar.
Daí que, diante deste mal-estar, pode-se facilmente cair numa postura niilista, amarga, fatalista. O momento é ruim, mesmo. Municipal, estadual, nacional e globalmente falando. Parece um somatório de sintomas. No entanto, ao assistir repetidamente a este singelo vídeo (sou fã), me peguei emocionado. Veja só. Que bobagem.
Mas o fato é que lembrei que o universo infantil precisa da qualidade afetiva da esperança. Esta não é luxo, não é supérflua, não é banalidade. É uma das coisas que faz com que a vida valha a pena ser vivida. E disso mal nos damos conta, mas ela está no trabalho, nos romances, nas relações familiares. No esporte, no futebol então…
Se o mundo de hoje parece meio desencantado, além de reconhecermos nossas dificuldades e encararmos uma realidade que se apresenta dura, acredito que também seja importante outro tipo de reação para além da óbvia desesperança. Algo mais criativo, que parta de dentro de nós. Estou falando de uma certa postura diante das bizarrices do mundo atual. No possível. E o possível é uma espécie de filtro para atravessar jornadas mais duras. Não precisa apresentar o mundo olímpico-armado como cor-de-rosa pra meninada. Eles veem, perguntam, percebem, sentem como nós. Este mundo está aí e eles querem viver. O que é o possível para cada um de nós? Pelo Chutebol, posso afirmar: vamos continuar brincando e jogando futebol com muita alegria. Com toda a nossa vontade!
Antes de encerrar, preciso dizer que gosto do ceticismo. Cultivo a crença na imperfeição humana, na medida em que ela é antídoto para ilusões descabidas, pessoais e sociais. Mas o ceticismo esclarecido, assim como entendo, não exclui a esperança. Aliás, se serve dela. Se não aspiramos à perfeição, aspiramos melhorar: como sujeitos, como sociedade. 
As crianças precisam que os adultos acreditem em alguma coisa. Nem que seja nelas. 
Gostaria de agradecer (ainda e sempre) aos quatro fabulosos de Liverpool. Por aqueles que vêm por aí:
And in the end
The love you take
Is equal to
The love you make

Aquele abraço, saudações esportivas

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