Crise de adolescência
Não é raro um familiar, genuinamente preocupado, perguntar a algum professor sobre o comportamento do fulaninho ou da fulaninha.
Se está se comportando direito, se respeita o professor e os colegas, se consegue aprender, como se relaciona, se está evoluindo na prática do esporte etc. Assim é, como sempre foi.
No entanto, nos últimos tempos algo além disso tem chamado a atenção, e inclusive vira tema de discussão em grupos de estudo e planejamento, em especial nas questões que os adolescentes apresentam: afinal, o que faz parte do percurso de amadurecimento, e o que é sintoma de sofrimento?
A questão se coloca pela intensidade da pergunta de um pai ou uma mãe, muitas vezes alarmados com este ou aquele comportamento. Quando soma-se a isso toda a evolução da medicina, neurologia e psicologia na produção de diagnósticos e sintomatologia, pode surgir um quadro mais assustador.
Neste contexto, se faz necessário pontuar: existe uma coisa chamada crise de adolescência.
Como bem lembrou a psicanalista Maud Mannoni, décadas atrás, a adolescência em si é um período de crise.
Crise de existência, que passa pelo abandono da infância e os novos processos de identificação – modos de existir e conviver para além dos modelos parentais, estes mesmos já usufruídos e, por isso mesmo, por vezes esgotados em sua capacidade de produzir sentido.
Não estou colocando nada de novo, apenas lembrando que, dada a longa lista de sintomas contemporâneos – muitos dos quais qualquer um de nós estaria devidamente encaixado – é muito tentador recorrer ao nome de um sintoma para poder dizer “é, ele tem isso”.
Não é o caso, naturalmente, de negar previamente a necessidade de um diagnóstico ou tratamento nos casos em que isso se mostrar necessário.
No entanto, perder de vista a noção de que a adolescência é um período de crise profunda nega a possibilidade de atravessar dores e angústias juntos, poder afirmar estas e aquelas escolhas, largar outras, caminhar enfim rumo à vida adulta – podendo sofrer com amparo.
Um ideal de comportamento que fuja a qualquer sintoma, a qualquer sofrimento, simplesmente esmaga as individualidades, a subjetividade que faz com que cada um de nós seja uma pessoa diferente, com características diferentes, com modos de se alegrar e de sofrer diferentes.
Não estou dizendo com isso que é fácil, ou que é bonitinho um rapaz grandalhão fazendo bobagens, birras, muitas vezes de modo agressivo ou inoportuno. Transgredindo. Não, não é.
Mas, como dizia Winnicott, para existir um adolescente é preciso que exista um adulto por perto. Para que ele possa confrontar, debater, queixar-se, abater-se… refazer-se.
Aquele abraço, saudações esportivas
Excelente reflexão !