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Dia dos professores 2019

A dobradinha do dia das crianças com o dia dos professores costuma merecer, neste espaço, um punhado de palavras. Vamos tentar outra vez.

Noutro dia, após planejar muito bem planejadinha uma sequência de treinamentos, entrou em quadra o professor com seus cones, sua metodologia e as informações para passar à turma. Explicou, explicou, explicou, montou a quadra como queria, daqui pra lá, de lá pra cá e… nada. Nada, mesmo.

A coisa não andava, os movimentos estavam mecanizados, a meninada estava muito mais preocupada em ‘acertar’, digo, fazer o que achavam que o professor queria. Não haviam, claramente, e com este último suando em bicas, se apropriado de uma ideia – na verdade, tentavam apenas repetir gestos motores sem muito sentido para a maioria deles ali.

Diante de rematado fracasso, não restou outra alternativa a não ser reconhecer o erro, tomar cuidado para não jogar a culpa na turma (isso é muito comum) e, claro, mudar o planejamento para as próximas aulas.

Tal situação ilustra algo que percebo atualmente: na ânsia de fazer a criança acertar/produzir, muitas vezes inibimos a parte que cabe a ela no processo, qual seja, tomar a atividade como sua, também. Envolver-se verdadeiramente.

Quando não há um envolvimento com essa qualidade, não há aprendizagem digna desse nome. A pessoa pode fazer tal e tal atividade para corresponder a alguém ou alguma coisa, o que é totalmente diferente. Isso nada tem a ver com a disciplina necessária no cotidiano de todos nós.

No treino acima referido ficou claro o excesso de informações, a descrição tão minuciosa de como fazer, do início ao fim, como se fosse isso a garantir o controle do processo de aprendizagem.

É como se tivéssemos a pretensão de, em nosso imaginário, impedir qualquer possibilidade de erro, de falha; acabamos assim, sem nos darmos conta, querendo fazer pela criança. Um desastre, que soa como um déficit de confiança.

É lícito imaginar, aliás, os males do século XXI nos quais os excessos de informação e exigência de eficiência estão presentes, como a apatia, por um lado, e as agitações, por outro.

Imaginem alguém contido, preso a um esquema que não lhe dá brechas, sem conseguir se colocar ou ser espontâneo: uma saída é abandonar a atividade dentro de si, ainda que a cumpra para alguém ver; pode emergir também uma insegurança excitada por corresponder, ou por terminar mais rápido; ou, simplesmente, olhar para o lado, desligar-se, desviando-se impulsivamente da atividade.

É preciso, ao contrário, confiar nas crianças, convidá-las a participar e a se envolverem, dando tempo ao tempo. Arriscar-se a errar, professores e alunos.

Na aula seguinte, consegui apresentar uma ideia parecida, um pouco menos sofisticada, com um treino mais simples e – por que não? – mais alegre.

Aí sim, eles entraram em quadra. De corpo e alma.

Com um abraço nos colegas professores e professoras, saudações esportivas

(*Foto da ChuteMãe Anna Luiza Muller)

This Post Has 5 Comments

  1. Preciso aplaudir o texto e a mensagem sobre aprendizagem, especialmente hoje, dia do professor. Rodrigo, como nosssas crianças aprenderiam autonomia, capacidade de decisão, confiança, se os adultos entendessem que errar é aprender e se tornar responsável. Gostei muito.

  2. Que texto bacana, Rodrigo.
    As crianças nos lembram diariamente de que a vida pode ser mais simples se reduzirmos a necessidade de resultados, produtividade, eficiência. Mas como às vezes é difícil aceitar o ritmo deles, reduzir as expectativas e aproveitar o momento a partir das demandas deles…O confronto entre o que a vida nos exige e o quanto podemos impor dela, aos poucos, diariamente, às crianças é “o” desafio da maternidade também. Obrigada por compartilhar sua reflexào e aprendizagem com a gente. Feliz dia do professor pra você, hoje e todos os dias. Obrigada

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