Dificuldades na socialização
Caros (as),
Uma questão que não deixa de ser atual diz respeito às crianças com dificuldades de socialização nos grupos escolares e extra-escolares. Tais dificuldades podem se apresentar de muitas maneiras e vão encontrar representações distintas, estando relacionadas à maneira de o sujeito estar no mundo.
Dentre as atitudes que costumam aparecer estão desde a apatia (a criança retraída) até as atitudes agressivas (bater, brigar) – passando por toda sorte de comportamentos estereotipados, como exigir intensa atenção do professor (evitando os colegas), apresentar-se sempre indefeso ante o grupo, recusar a aprendizagem e outros tantos. Ocorre que tudo isso é da infância, desde que sejam períodos passageiros. Muitas vezes a pessoa precisa experimentar alguns destes papéis para encontrar sua própria maneira de ser. É preciso ficar atento, no entanto, quando o aluno congela num lugar que gera sofrimento.
Quando isto acontece, o papel do adulto é fundamental. Passa a ser exigida do professor, por exemplo, uma disponibilidade afetiva muito grande. Evidente que esta não deve ser confundida com mimar o aluno. O vínculo da relação deve apontar para aquilo que a criança precisa, que muitas vezes contradiz seu comportamento.
Pode acontecer de uma criança que se mostra retraída, por exemplo, não precisar ser incentivada o tempo todo, pois se sente pressionada com isso. Necessita na verdade é relaxar e conseguir ser espontânea para fazer as coisas à sua maneira, deixando de lado por algum tempo este ou aquele ideal de aprendizagem que poderá ser retomado depois. Nestes casos a criança só se solta quando confia mais em si e no ambiente e se sente aceita de alguma maneira – isso pode demorar. Outros que se mostram retraídos, é verdade, necessitam de um olhar a mais do professor como que para se sentirem reconhecidos, de gestos e palavras de incentivo com mais firmeza. Como se vê, não há fórmula, mas sim o conhecimento do grupo e a busca por uma sintonia com a subjetividade de cada aluno, que também não pode ser sentida por eles como falsa ou enganosa.
Pensando mais diretamente na relação que se estabelece com a turma a partir destes comportamentos (poderíamos dizer sintomas), acredito que há também o lado do grupo. Nas relações grupais há um intenso imaginário que percorre as relações: entre os indivíduos, na formação de pequenos sub-grupos, de cada um para com o grupo todo e do grupo todo para com cada um. Assim que, quando uma criança está em tamanha dificuldade que visivelmente perturba a atividade coletiva, me parece importante separar um momento para abrir o jogo. Falar. Conversar abertamente sobre este ou aquele problema. Individualmente e/ou em grupo. Escutar as pessoas. Não no sentido de expôr este ou aquele colega (e aí depende do manejo do professor); mas de que as emoções possam ganhar representações mais claras e, a partir daí, é interessante tentar construir alguns compromissos comuns.
Se é verdade que alguém pode atrapalhar uma atividade grupal, é igualmente verdadeiro que o grupo em si também tem responsabilidades sobre cada um de seus componentes. Se quisermos sustentar um norte ético e moral para as novas gerações, é preciso saber o que fazer com aqueles que, por algum motivo, se colocam em dificuldade. Abandonar o sujeito à própria sorte não é a saída. Muitas vezes até mesmo alguma atividade pedagógica pode ser (re)feita por todo o grupo para ajudar aqueles com tais questões. Não se trata de retrocesso, mas de um movimento solidário.
Por outro lado, se após uma boa conversa e a diluição de alguns fantasmas a maioria dos participantes do grupo demonstrar sua disposição em ajudar, é preciso que o compromisso também seja firmado com aquele um que está em sofrimento. No sentido de ele tentar se mover de outra maneira. Fica assim estabelecido algum objetivo entre a(s) parte(s) e o grupo, tendo o professor como mediador.
Por fim, é claro que na prática tudo isso é muito difícil. Com as dificuldades de socialização muitas idas e vindas existem, progressos e retrocessos. Mas quanto mais verdadeiras e abertas forem as relações dentro do grupo (aluno-aluno; aluno-professor; grupo-professor), melhor será o ambiente para as dificuldades – e os sucessos – serem vividos por todos. Se os pais puderem ajudar com interesse, diálogo e confiança em todo este processo, tanto melhor.
Aquele abraço, saudações esportivas
Estava meio jururu aqui, descrente de tudo e de todos, e aí leio o seu texto e vejo uma luzinha no fim do túnel. Sim, pessoas (crianças e adultos) podem ser felizes em grupo. A experiência é doída, porém humanizadora. Obrigada por me lembrar.
Oi Bia, é verdade, é doído mesmo. Acho que falar alivia. Gostei do "humanizadora", concordo com você. Um beijo
Muito bom Rodrigo. Abs
Adorei Rodrigo! Ótimo assunto (como sempre!!)
Li a íntegra do artigo, e senti falta de um ou mais exemplos concretos. Acho que enriqueceria muito a abordagem do tema. Mas está ótimo mesmo como está.
Abração, Rodrigo.
Ótimo texto!
Bjs,
Paula