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Do que sofre a Infância?

Caros (as),
Na charge abaixo o genial André Dahmer ilustra, com fina ironia, o drama contemporâneo da medicalização da infância. Longe de querermos nos opôr aos avanços da ciência ou – muito menos – duvidar de quem sofre, trazemos logo abaixo um recorte do brilhante psicanalista e pediatra inglês D. W. Winnicott. Qual é o ambiente que estamos proporcionando à infância atual, para que esta insista em manifestar seu mal-estar ao ponto de, mais do que nunca, pensarmos ser preciso medicá-las em tão larga escala? Isso é inevitável, é próprio do progresso? Afinal, de que sofre a infância?
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“Prover para a criança é uma questão de prover o ambiente que facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional. Este ocorre na criança se se provêem condições suficientemente boas, vindo o impulso para o desenvolvimento de dentro do próprio sujeito. As forças no sentido da vida, da integração, da personalidade e da independência são tremendamente fortes, e com condições suficientemente boas a crianças progride; quando as condições não são suficientemente boas ficam contidas dentro da crianças e de uma forma ou de outra tendem a destrui-la. Temos uma visão dinâmica do desenvolvimento infantil  e observamos isto se converter (em condições normais) nos impulsos familiar e social.
(…) De imediato quero fazer um pronunciamento para me contrapor a qualquer impressão que possa ter dado que saúde é o suficiente. Não estamos apenas interessados na maturidade individual e em que os indivíduos estejam livres da doença mental ou da neurose; estamos interessados com a riqueza do indivíduo não em termos de dinheiro mas de saúde psíquica interna. Na verdade, frequentemente perdoamos um homem ou uma mulher por doença mental ou outro tipo de imaturidade porque esta pessoa tem uma personalidade tão rica que a sociedade tem muito a ganhar da contribuição excepcional que ela pode fazer. Permito-me afirmar que a contribuição de Shakespeare foi tal que não importa se descobrissemos que era imaturo ou anti-social em algum aspecto. Riqueza de qualidade, ainda mais do que saúde, é que fica no topo da escalada do progresso humano.
(…) Enquanto tentamos entender tudo isso queremos tentar também compreender por que uma mãe (incluo o pai) não necessita ter uma grande compreensão intelectual das necessidades do filho. Uma compreensão intelectual dessas necessidades é inútil tendo sido satisfeitas condições básicas da existência e, através dos tempos, as mães têm satisfeito as necessidade dos seus filhos, de modo geral. Ao nos preocuparmos excessivamente podemos ficar retraídos, instáveis, anti-sociais ou apenas irritáveis, de acordo com nosso padrão pessoal.
(…) Não necessitamos pensar em sermos sagazes ou mesmo em conhecer toda a complexa teoria do desenvolvimento emocional do indivíduo. Antes necessitamos dar a oportunidade para as pessoas certas conhecerem as crianças e assim pressentir suas necessidades. Poderia se usar a palavra ‘amor’ aqui, correndo o risco de soar sentimental. Isto leva à observação final: muitas  vezes, sem deixar a área abrangida pela palavra ‘amor’, verificaremos que uma criança necessita de firmeza na orientação, precisando ser tratada como a criança que é e não como um adulto.”
[Adaptado de ‘O Ambiente e os Processos de Maturação’ – D.W. Winnicott, 1962]

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