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Fantasias

Caríssimos (as),

Essa é de almanaque. Marcelo Zavareze, papai do nosso craque Luca Marques, enviou-nos esse conto que não é só um conto, porque aconteceu de verdade. É próprio do futebol o devaneio em que realidade e fantasia se amam tanto que não se separam muito bem – mesmo que no Brasil estejamos jogando às caneladas no início do século XXI. O que importa é que ainda é um espaço próprio do brincar, espaço por excelência dos paradoxos, em que não é preciso separar cartesianamente ‘uma-coisa-ou-outra’; trocando em miúdos, cabem o lógico e o ilógico, o pouco provável, muitas vezes o impossível. O que não significa que algo não aconteceu, mas o oposto: a fantasia invade a realidade, e aí é um deus nos acuda – de tristeza ou de alegria.

E dessa vez foi de alegria. Pai e filho foram num jogo do Fluminense e o pimpolho, como acontece com as crianças, fez do seu devaneio arte: pintou um cartaz com as cores do time de coração e, da arquibancada e do alto de sua infância, passou toda a partida (inclusive no aquecimento) pedindo (gritando!) ao goleirão Diego Cavalieri para que desse a ele sua camisa. É aí que entram em cena a sensibilidade de um atleta profissional que compreende sua responsabilidade; a coragem do pai em sustentar um sonho infantil aceitando o risco da frustração (de a realidade se impôr); e a espontaneidade própria da criança, que desafia a lógica dita normal do mundo dos adultos. É preciso escutar as crianças.

Boa leitura!
“Acordei numa quarta-feira, dia de futebol no Clube Militar, com o Luca insistindo que tinha sonhado e precisava falar com o Diego Cavalieri. Confesso que não dei bola… Em seguida à aula no Chutebol, Luca sentou e fez um cartaz para ser entregue ao goleiro do Fluminense. Comecei a prestar atenção.

Minha agenda estava repleta de compromissos de trabalho, médico e etc que sempre são inegociáveis até você dizer que vai parar tudo e embarcar num sonho do seu filho. Não é toda hora que você abre mão e embarca nesta, pois o senso de responsabilidade dos adultos sempre elimina os sonhos de maneira avassaladora. E foi pra lá que eu fui…


Combinei que o levaria no Maraca para ver Fluminense e Cabofriense (acho eu) da escola e com toda convicção do mundo ele me pediu para levar o uniforme completo do Cavalieri que ele tem (meia, luva, camisa, short). Até então não tinha lido o cartaz que havia feito. Ao furar o mega transito do Humaitá até o Maracanã, na fila para comprar entrada li o cartaz e vi que o negocio era sério. Dizia: ‘Cavalieri por favor mida [‘me dá’] sua camisa intercalando as cores do Fluminense, verde, branco e vermelho.


Chegamos 1 hora antes e, como de praxe, o goleiro sempre vai treinar e aquecer antes do time no gol do lado da própria torcida. Luquinha se posicionou na primeira linha e começou a chamar o Cavalieri insistentemente. Decidi que a voz da criança iria sensibilizá-lo mais do que um coro de pai e filho. Num determinado momento da concentração do aquecimento vi que o goleiro viu o Luca e tentou ler… Neste momento acenou, mas eu não queria alimentar nada na cabeça dele. Luca garantiu que Cavalieri fez sinal para aguardar.


Dito e feito, 90 minutos na mesma posição e independente dos gols feitos pelo Fluminense o Luca não largava o cartaz na primeira fila, mesmo quando o goleiro foi para o outro lado do campo. A distância do gol agora defendido do lado oposto não diminuía seu otimismo. 500, 600 metros ou quilômetros, não importava, era longe demais… O estádio não estava lotado, longe disso, mas mal ou bem havia 4.900 pessoas. Uma multidão para a voz do Luca se destacar.

Já estava eu gerenciando as mensagens de auto-estima contra as frustrações que ele encararia naquela noite e o Luca, no final do jogo, insistiu que o Cavalieri viria até ele. Só pensei…”danou-se”.

Depois da vitória, todos os jogadores foram embora para o vestiário; e lá do outro lado do campo, num caminhar sereno e muito lento, não é que o goleiro apontou em nossa direção? Neste momento os 500 ou 1000 torcedores tricolores caraminguados restantes se tocaram que o goleiro estava numa direção certeira para a arquibancada… eu e Luca fomos praticamente empurrados da primeira para a 4ª fila. Eu pedia ‘dá licença!, por favor, pelo amor de deus, socorro!…’

E não é que o Cavalieri chegou e apontou para o Luca, dizendo é aquele menino ali!” ? Como nos Dez Mandamentos, abriu-se um caminho no mar para o Luca atravessar, numa salva de aplausos emocionantes. Ele e Cavalieri se abraçaram longamente, depois conversaram algumas coisas, e a multidão e os gritos de ‘Cavalieri-Cavalieri-Cavalieri-Cavalieri’ impediam que eu participasse de alguma maneira… Luca ganhou a camisa, entregou o cartaz ao goleiro e lembrou de pedir uma foto – quando pude, emocionado, apertar  sua mão e agradecer.
                                                             



Fiquei anestesiado com tudo aquilo… Fomos para casa nas nuvens… tive um dia de super pai de filho super iluminado. Um escutando a intuição e outro acreditando no seu sonho.

Boa semana, Rodrigo!”


De almanaque. Boa semana!


Aquele abraço, saudações esportivas

This Post Has 9 Comments

  1. Emocionante Rodrigo!!!

    Sempre é bom ler suas publicações…
    Luca pediu para ler 2 vezes, com um sorriso lindo nos lábios!!!

    Bjs & obrigada por fazer o Luca feliz!!!!

  2. Queria também agradecer e parabenizar pelo trabalho realizado.
    Acompanho suas postagens no facebook e gosto muito dos temas abordados!

    Beijos,

    Juliana.

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