Fla-Flu
O pequeno rubro-negro saía do estádio com uma derrota na cabeça. O pai a seu lado, ambos caminhando lentamente – o corpo fica pesado nestas horas. Eu acompanhava de perto, simpatizei com a expressão do menino: não parecia desolado, nem esbravejava. Havia uma certa serenidade em sua tristeza. Ele então abriu o coração: “Mas o jogo foi bom, né, pai?”. O pai confirma, explica algumas coisas sobre o comportamento dos times e, ao final, reconhece: “Mas o Fluminense mereceu”.
Pai e filho continuaram em sua caminhada arrastada. Minha digestão da derrota não estava assim tão lenta (os anos ensinam alguma coisa). Pude caminhar um pouco mais rápido, junto aos amigos, para deixar o Engenhão. Mas aquele simples diálogo fez eco em mim por um motivo: o potencial educativo do esporte. Do futebol, particularmente, como esporte das massas.
Ao se apresentarem de maneira decente, jogando na bola, buscando o gol e sem usar do mimimi e da violência, Flamengo e Fluminense transmitiram a sensação que o menino buscou confirmar junto ao pai: o jogo foi bom. É como se ele se sentisse, logo de cara, respeitado como público. É um sentimento que precede até mesmo a legítima e ardente vontade de vencer. Tendo esta percepção por base, a maneira de encarar a derrota tende a não ser aquela do desespero, da acusação e do ressentimento (contra o árbitro, o destino, o adversário tomado como inimigo). Acredito em algo que sacie a paixão pelo futebol, o simples conforto em ter presenciado um bom jogo. E pensar (oh, heresia!) que corremos o risco de jogar um Fla-Flu com torcida única. Não poderia ter havido melhor resposta do que o espetáculo deste domingo.
Os clubes, em especial os grandes, deveriam tomar isso como uma responsabilidade, quase um mandamento. Não importa qual estratégia (se mais ou menos defensiva ou ofensiva), é preciso sustentar um compromisso com o futebol bem jogado, que faz com que o torcedor se sinta respeitado de antemão. Isto configura um exemplo e um modelo de identificação a ser seguido pelo público infanto-juvenil.
Além disso, nessa pequena história, é forçoso exaltar a resposta do pai: o reconhecimento ao adversário. O adulto é quem apresenta o mundo à criança. Isto é de extrema responsabilidade. O pai rubro-negro do diálogo poderia muito bem ter esbravejado qualquer coisa como resposta, culpado o juiz ou desmerecido a vitória tricolor. A maneira de o filho encarar o esporte, fatalmente, seria outra. No entanto, ao acolher a tristeza do rapazinho, ponderar aqui e ali sobre o jogo e afinal reconhecer os méritos do adversário, o pai aponta um norte ético a partir do esporte.
A derrota educa. Não há muito o que fazer. Perdeu, perdeu. Mas – e aí está o ganho moral da postura acima – nem por isso o mundo acaba. Mais do que repetido monotonamente por um professor, como um manual descolado da realidade, a vivência real destas emoções educa profundamente, pois cala fundo em quem as viveu. Depois de perder, só resta se refazer e tentar a sorte outra vez.
É como diz aquele narrador: “O Fla-Flu é demaaais pro meu visual, galera!!”
Aquele abraço, saudações esportivas
Há tempos não acompanho futebol, não torço mais pra nenhum time, mas a leitura do seu texto, Rodrigo, me trouxe uma emoção bonita, uma alegria que eu guardo carinhosamente dos anos em que eu era, como meu pai e meu irmão, flamenguista de coração.
E poder resgatar isto do ponto de vista formativo que a derrota pode ter, com uma análise sincera do que funcionou no time e no reconhecimento do merecimento alheio, me faz ter certeza que a gente ainda tem jeito como humanidade, embora sejam tantos os exemplos que nos envergonham.
Vou guardar como bom combustível pra semana o exemplo do pai e do filho, e a sua tradução tão bacana do poder das relações afetivas. Beijão.
Oi Bia,
Muito legal teu coment´rio =)
Um beijão
BOA BIGA!
Excelente texto, Rodrigo. Aprovado 100%. E gostei demais do comentário da Ana Beatriz.
Meus parabéns a você e a ela.
Abração.
Sim meu amigo sempre boa suas analises.
Obrigado
Querido Rodrigo,
Quero continuar a receber suas mensagens.
Tenho imensa admiração por você e muito gosto de ler seus textos, e imensa gratidão por tudo que o João Belfort viveu e aprendeu com vocês – sem falar nos campeonatos que jogou e o último título com gol de goleiro.
Abraço grande
Tomás
ato falho na publicação da fotos. Por cima, o vencedor, sempre!
Parabéns pelo texto… é isso aí… reconhecer o mérito do outro, que no fundo se constrói pelo mérito do adversário também, é fundamental. O discurso da paz é vazio quando não pressupõe a limpeza do embate. Futebol pra frente foi a grande vitória de ontem.
abs
Legal o texto, presida
Demais, Biga!
Que narrativa incrível, Rodrigo!
Parabéns!
Bjs,
Mirian & Luca
Que bom que tudo correu bem dentro e fora do campo, fora do estadio, esta no nosso DNA gostar de ver futebol bem jogado desde os pequenos do Chutebol ate o profissional…muito boa a sua cronica..
Falou Rodrigo
Abraço
eu AMO seus posts Rodrigo, vc escreve muito bem.
🙂
Rodrigo,
Também gostei muito do seu texto. Claro que fiquei muito tocado pelo recorte da relação entre pai e filho, o que imagino ter acontecido com todos os pais que o leram, mas no meu caso particular talvez cale um pouquinho mais fundo porque – ossos do ofício – não consigo ir ao estádio com o Pedro. E gostei mais ainda da amplitude da sua visao: o pai é responsável por educar o filho, assim como as autoridades têm a responsabilidade de cuidar da segurança dos cidadãos e os jogadores dentro do campo precisam se comportar como esportistas. Um jogo de futebol envolve muito mais do que 22 homens correndo atrás de uma bola. Um abraço!
Salve, Marcelo, é isso aí! O futebol é um mundo! Muito bom ler teu comentário!
Grande abraço
Vim pela indicação do Marcelo Barreto no seleção SporTV. Adorei a leitura!
Maravilha, seja bem-vindo!
Legal Rodrigo
Tambem gostei dos seus comentarios do Fla-Flu…abs