Histórias Fantásticas de Futebol (2)
‘Lugar Nenhum’
“Vai, passa a bola!”
“Vai, chutaaaa!!”
E então, acordou. Abriu os olhos e, uma vez mais, como há duas semanas, lembrou que estava em quarentena. Todos os dias nesse período, um segundo antes de acordar, sentia algo estranho.
A mãe chamava, era preciso começar a rotina: café, escola virtual, atividades virtuais, alguma brincadeira, uns games, chamadas por vídeo. O dia ia passando.
E repetia isso todo dia. Não sabia quanto tempo ia durar o confinamento.
Lá pelas tantas, pensou num plano.
***
“Vira o jogo, tô livre! Que beleza, faz!”
“É gooooool!!”
E veio aquele segundo. E decidiu não acordar. Mais ainda, decidiu não descer. Decidiu ficar jogando futebol, até que as coisas voltassem ao normal.
Os pais chamaram o menino. Deram bronca, ameaçaram tirar o game, ameaçaram de tudo. Não adiantou, ele estava decidido a não voltar.
***
Depois de tanto jogar, sentiu saudade dos pais e, vá lá, lembrou do compromisso com a escola, que era preciso fazer os deveres, passar de ano, essas coisas.
Combinaram, então, de ele passar em casa para as refeições e fazer alguns deveres, dar um chamego na família. Depois voltava para o jogo.
***
O tempo, assim, foi passando naquela quarentena.
***
A mãe, algumas semanas depois, desconfiou que estavam metidos num pesadelo, do qual o menino escapara.
Começou a bolar um plano depois que levou uma bolada, vinda de lugar nenhum.
(De Rodrigo Tupinambá Carvão)
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