Histórias Fantásticas de Futebol (4)
‘Pra Galera’
Já não lembrava mais por que corria. Apenas, corria.
Bateu todos os recordes de distâncias, mundo afora. Atravessava estados, países e continentes.
Corria entre chuva e sol, mares e montanhas, cidades e desertos.
Corria como quem precisava ganhar o mundo a cada passo, e ganhava.
Ficou conhecido e admirado por sua vontade, sua determinação.
Ele mesmo, no entanto, não pensava em nada disso.
Corria apenas, mas corria com imensa, imensa alegria.
***
Muitos se perguntavam qual era o sentido daquilo, qual era aquela busca; se havia alguma promessa feita a alguém, a superação de algum limite pessoal.
Ele, como somente corria, não tinha tempo para explicar-se. Apenas corria.
E via paisagens, fins de tarde, madrugadas, manhãs, bichos, gente, florestas, crianças.
Atravessava lugares de guerra e de paz, beleza e feiura, miséria e fartura.
A tudo, via – via e corria.
E sorria.
***
Sempre havia sonhado em fazer um golão, um golaço de tremer a arquibancada e levantar a galera.
Sabia jogar mas, no seu time, em jogos oficiais, nunca tinha marcado um gol. Nos treinos, sim – mas em campeonato, jamais.
E quando, no torneio da escola, o zagueiro adversário desviou a bola de cabeça para a entrada da área em sua direção, ele não pensou duas vezes: adiantou-se ao marcador, ajeitou o corpo e preparou a batida – POU!
Um chutaço com o peito do pé estufou as redes! Lindo, divino, maravilhoso!
O chão tremeu, ele correu pra galera.
E nunca mais voltou.
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