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Histórias Fantásticas de Futebol (6)

O armário

Já se passara tanto tempo desde que havia começado a quarentena que o menino não lembrava mais de muitas coisas do lado de fora. Bem dizer lembrava, mas vai ver não queria lembrar e colocou muitas memórias num canto da cabeça, num cantinho lá do fundo.

E ia cumprindo a programação do dia a dia com a família, os estudos, os games e tudo isso, e enfim chegou mais um sábado em que a família iria fazer a faxina da casa, a faxina ganhou ares de programação familiar e até divertida por estes tempos.

Na parte em que ajudava com a limpeza do quarto, deu de abrir o armário mais do lado de lá, que devia ser uma destas portas que ficaram naquele canto da cabeça, só podia ser, não se deu conta mas posso dizer que já estava há quase oitenta dias sem abrir aquela parte do armário, só podia ser isso.

E viu aquelas chuteiras ali, empoeiradas. E ouviu uns gritos vindos de algum lugar lá do fundo: “passa a bola”, “chutaaa!”.

E como era um armário grande com chuteiras pequenas, viu que cabia ele também. Resolveu entrar.

A mãe deu por falta do menino, chamou-o e ele apareceu todo suado. Estando suado era sinal de que estava se esforçando na limpeza do quarto. Ela deu algumas instruções, ele voltou então para o quarto e dali para o armário.

***

Desde então o menino deu de aparecer suado, bem suado e até cansado depois da faxina. Mas com um sorriso no rosto, desses relaxados.

A mãe comentou com outras mães, que perceberam a mesma coisa em suas casas.

O quarto realmente ficava muito limpinho.

Menos as chuteiras, cada vez mais sujas.

(De Rodrigo Tupinambá Carvão)

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