Ideais
No cotidiano do esporte infanto-juvenil, temos percebido muitos casos de crianças e adolescentes que parecem exigir muito de si mesmos. Estou falando de um excesso, algo além das responsabilidades e ideais comuns e ao alcance da compreensão infantil.
Tais demonstrações se dão de formas conhecidas: crianças que dizem não querer mais jogar futebol (dizem que não gostam mais, mesmo visivelmente gostando); que saem no meio de uma partida (mesmo jogando bem aos olhos alheios); com a conhecida recusa em aceitar a derrota; com apatia ou irritação exageradas.
É claro que essas situações sempre existiram, mas a percepção de muitos casos e de muitos relatos de colegas nos obriga a discutir a situação.
Todos nós precisamos erigir um ideal de nós mesmos quando crianças. A partir dos modelos apresentados, e da percepção da expectativa sobre nós, vamos tentando alcançar alguma performance nas diversas áreas da vida, e isso é uma das coisas que nos empurra para o amadurecimento psicomotor, cognitivo e social. (Uma criança que não percebe qualquer expectativa sobre ela fica numa situação muito difícil, pois o mundo está dizendo que dela não se espera nada).
De tal maneira que, em determinada sociedade ou grupo social, é legítimo inferir que existem ideais implícitos, não necessariamente ditos, enunciados, mas que pairam como códigos mais ou menos conscientes ou inconscientes para as pessoas. As famílias não escapam a isso.
Diante dos casos que chegam até a mim, e que vejo no cotidiano dos treinamentos e competições, é sempre bom poder contar com a escuta atenta e com os questionamentos que chegam da própria família acerca das reações do fulaninho.
Quando há a possibilidade de conversar, muitas vezes a mamãe ou o papai conseguem identificar os possíveis lugares de onde pode vir a pressão que incide no filhote; noutras vezes, isso é público e notório pelo comportamento na arquibancada. Cabe mea culpa – e isso ajuda a criança.
Existem, ainda, os casos nos quais a família não consegue identificar de onde vem o discurso que pressiona. Há o risco de começar uma associação desnecessária com transtornos psicológicos, como se não existissem condições familiares e sociais que favorecessem o estresse, como se fosse “algo do fulaninho, vem com ele”. Discordo.
É preciso tentar perceber os mandamentos inconscientes, não ditos; os exemplos e histórias da família e do entorno; e até o ambiente social mais amplo. A criança é uma esponja que capta expectativas, discursos e sentimentos ao seu redor, mesmo que não sejam ditos diretamente a ela. Ela percebe o meio no qual está inserida e reage a ele como consegue.
Não custa insistir: o que esperamos das crianças e adolescentes de hoje? Quais ideiais estão em jogo? O que é preciso fazer, o que é preciso alcançar para sentir-se bem-sucedido, amado, aceito, querido pela família e pelo grupo social?
Qual é, enfim, o ideal de infância e adolescência que sustentamos hoje?
Aquele abraço, saudações esportivas
Excelente, Rodrigo!
Olhar pra dentro é um desafio constante.
Abs.
Rodrigo,
o post de hoje foi no fundo da rede… seria ótimo debatermos esse tema!
Abraços,
Maravilha de texto meu prezado Rodrigo !!! A expectativa sobre o desenvolvimento dos infanto adolescentes é sem duvida pertinente de atenção sendo isso é uma das coisas
que nos empurra para o amadurecimento psicomotor, cognitivo e social. !!! Repetindo suas palavras acima venho mais uma vez lhe parabenizar pelo consistente e extremamente construtivo trabalho que voce vem desenvolvendo ao longo desses anos !!!!!!!!
Muito bom, Rodrigo. Gostei muito. Gostaria de saber as respostas.
Abração.