Impressões
O professor pensa nos jogos do fim de semana. Tem início uma pequena mutação, imposta pela fantasia inerente às competições infanto-juvenis: os alunos se transformam em jogadores; os pais, em torcedores; e ele mesmo, o professor, se reveste do papel de treinador.
Para além da imaginação em relação ao futuro, ao desempenho, às condutas desportivas para que dê tudo certo no evento, surge uma nuvem de lembranças. Lembranças de um passado recente, mas também de memórias antigas. Resolve devanear livremente e dividi-las.
Professores que já foram abordados no vestiário, no banheiro, até urinando, por pais querendo saber ou questionar essa ou aquela escalação de um jogo infantil. Essa é uma lembrança tragicômica, talvez nonsense. O que levaria alguém a fazer isso?
Familiares compreensivos com as dificuldades de suas próprias crias, apoiando de maneira incondicional o esforço individual e coletivo na busca de um resultado. Que não veio.
Crianças que, de tão ansiosas, mal conseguem permanecer na quadra; vomitam, têm dor de barriga, choram. Que peso é esse que sentem?
Pequenos craques que jogam com a elegância de veteranos e encantam um ginásio inteiro. Que leveza é essa que sentem?
Treinadores, muito investidos de seu papel nos momentos mais difíceis, que perdem a mão na condução das equipes, na fala, no gestual, na bronca. Conseguimos fazer autocrítica?
Professores sempre dispostos e atentos a um abraço amigo. Familiares sempre dispostos e atentos a um abraço amigo. Pequenos jogadores, sempre dispostos e atentos a um abraço amigo.
A alegria da arquibancada.
A fúria da arquibancada.
O medo de perder e o medo de vencer.
O compromisso e o sentido: afinal, por quê jogamos?
***
O professor volta a si. Sente que fez a pergunta necessária.
Aquele abraço, saudações esportivas
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