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Inteligências

Causou espanto e rebuliço, poucas semanas atrás, a entrevista do neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França – acerca de um fato inédito: pela primeira vez, a nova geração tem QI inferior ao dos pais (https://www.bbc.com/portuguese/geral-54736513 )

Vale a pena ler a entrevista, que fez lembrar outro ponto fundamental: a piora das capacidades psicomotoras em crianças e adolescentes, facilmente perceptível pela observação. Causa preocupação e debate entre professores.

A dificuldade em executar com destreza razoável gestos motores simples (chutes, passes, arremessos, desvios); bem como uma certa flacidez dos corpos que dificultam os movimentos naturais (correr, marchar, saltar) faz com que o alcance de habilidades mais complexas e, inclusive, a capacidade em socializar-se fique bastante dificultada.

As habilidades emocionais e sociais decorridas de uma boa relação e confiança no e com o próprio corpo ficam prejudicadas e, em não sendo amadurecidas a contento, podem ser fator de apatia, baixa auto-estima e patologias decorrentes.

Por outro lado, um corpo que não se realiza pode ficar permanentemente excitado, com uma vontade de potência que não se realiza – que não se satisfaz. Desatentos?

Não fica difícil imaginar a fuga para o mundo virtual se, além do encanto que ele já oferece, o mundo palpável, cotidiano, oferece muito pouco.

Como estão organizadas nossas cidades? Há espaço e lugares seguros, espaços públicos para crianças e adolescentes se aventurarem, no sentido de poderem, digamos, apropriar-se da cidade também como sua?

As ruas convidam à livre circulação? As agendas escolares e de cursinhos conseguem harmonizar trabalho e tempo livre, trabalho criativo? Em tendo tempo livre, quais as possibilidades de brincar e relacionar-se de modo espontâneo com seus pares?

Há pares?

O que chocou no artigo citado acima é que ele contradiz uma espécie de compensação que parecia existir: se as crianças estão molengas, ao menos são máquinas de pensar, super inteligentes.

Não, não são. Corpo, afeto e intelecto caminham juntos. Fazer escolhas inteligentes, demonstrar sensibilidade e empatia e adquirir certa sagacidade não são trabalhos divisíveis em departamentos exclusivos. Fazem parte da vida como ela é.

Evidente que essas questões não dependem do mundo infantil, mas do mundo adulto. É dali que virão as respostas ou soluções.

Mas se ficarmos impossibilitados de apresentar o mundo com nossos próprios olhos, convidando-as, as novas gerações não deixarão de buscar por ele. Continuarão a fazê-lo, caminhando no entanto por onde encontram diálogo e algo que as encante – nem que seja numa tela de celular.

Mas podemos fazer melhor do que isso.

Aquele abraço, saudações esportivas

This Post Has 6 Comments

  1. Fala Rodrigo, excelente o texto. E parabéns por seu projeto para o corpo e para a alma dessas crianças e dos seus pais e mães. Turma aqui em casa está super feliz com essa nova rotina. Dá-lhe parceiro.

  2. Perfeito querido!
    Mas honestamente me pergunto (diariamente): o que nós pais estamos fazendo pra melhorar as capacidades sócio-emocionais das nossas crianças? No meu caso, brigo com todas as forças, pra que ele tenha tempo livre …

    Vejo adultos que também passam o máximo de tempo em seus telefones, tentando impedir que as crianças façam o mesmo, mas sem conseguir dar tempo pra elas. Crianças precisam de estímulo pra largar o virtual e brincar de outra coisa. Como enxergar o mundo de forma mais ampla, através de pais que estão cada vez mais limitados? Não sei você, mas eu não consigo mais ter conversas (no meio social), sobre o que não está na internet.

    Sei lá…. tá tudo muito estranho.
    Bjos,
    Lu

  3. Que texto necessário e impactante! Obrigada!

    Percebia e intuía isso aqui com as bailarinas, mas agora parece que está confirmado!
    Como podemos sair dessa armadilha? Pelo corpo criativo e expressivo, acredito.
    Muito trabalho para nós, meu amigo! ❤️👏🙏🙏🙏
    Beijos,
    Gi Alvim

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