Professores & crianças
Voltando à questão da identificação, tenho ficado bastante impressionado em como as crianças precisam poder usufruir da figura do professor, como elemento de identificação positiva para a formação de sua personalidade. Me refiro à capacidade do professor em estabelecer uma comunicação real com a criança, no sentido de poder ser espontâneo na relação; e no sentido de ter umas poucas regras claras, simples, funcionais e ao alcance da compreeensão infantil para comandar uma turma.
A identificação positiva não deve ser confundida com um professor que tenta se mostrar perfeito, impecável em suas ações e implacável no cumprimento de regras absurdas. Identificar-se com alguém que pretende mostrar-se sem falhas humanas pode virar um verdadeiro pesadelo para a criança, ainda mais se os pais comprarem essa ideia como ideal. Algo inatingível, irreal e amedrontador. Por outro lado, um professor que busca mostrar-se evitando qualquer autoridade ou hierarquia – como se as regras e condutas morais fossem itens, digamos, opcionais na vida -, termina por jogar uma responsabilidade muito grande em cima da criança. Cabe ao adulto aplicar algumas leis quando necessário, pois isto significa que ele se responsabiliza por coisas que a criança ainda não mostra capacidade em responsabilizar-se. É uma titude afetiva, e o século XXI tem chamado a isso de ‘limites’.
O professor ou a professora que consegue apresentar-se inteiro, humano e real, preservando seu lugar de autoridade sem ser amedrontador, permite à criança fazer uso da maneira de viver e de agir que o próprio professor apresenta. Identificar-se com ele ou ela sem ter que ser igual. Aprender, efetivamente, sobre o metiê e algumas formas de aprendizagem, concretizar projetos e mover-se socialmente em algum grupo. A identificação positiva à qual me refiro tem um elemento de plasticidade, que é dado justamente pela capacidade do professor em ser espontâneo, comunicando-se afetivamente com a criança (permitindo a ela ser espontânea), sem ter que sair do lugar de adulto que lhe é cabido na relação. Como são muitos os professores ao longo da vida escolar, certamente alguns vão marcando positivamente a vida do aluno e ajudando-o a estruturar sua personalidade.
(Nós, adultos, certamente lembramos de alguns professores possuidores das qualidades às quais me referi, em nossa infância. É evidente, também, que o ambiente facilita ou dificulta o trabalho ao qual me refiro, e a triste situação de muitas escolas brasileiras empurra profissionais para comportamentos estereotipados, em busca apenas de sobrevivência financeira e emocional).
No fim das contas, creio que estou falando de uma atitude amorosa: emprestar-se, para que a criança consiga fazer uso da figura do professor como for possível para ela. Seremos usados, comidos, amados, destestados, romanceados, descartados. Oferecendo, no entanto, uma maneira singular de ser e de viver.
Aquele abraço, saudações esportivas