Real e imaginário

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 23/11/2017 |
Categorias: EducaçãoFutebolFutsalInfância
Muitas vezes, nos jogos infanto-juvenis, percebemos a aflição da arquibancada, em especial quando algum time não consegue apresentar um jogo vistoso.
Diante do ideal brasileiro de jogar futebol, construído ao longo de décadas de fino trato com a bola, é natural e desejável que todos nós (familiares, professores, alunos) esperemos aquele toque bonito, dribles, trocas de passes e o que de mais estético puder nos oferecer uma partida. A beleza, a maneira agradável de jogar faz bem pros olhos e pra alma. Durante os treinamentos, é nosso papel dar continuidade a essa cultura.
No entanto, quando a competição esquenta, investidos do papel de treinadores e tendo também compromisso com as realidades mais duras de um torneio, por vezes precisamos apresentar um tema interessante aos nossos alunos: o jogo do imaginário versus o jogo real.
Lidar com crianças e adolescentes numa escolinha é diferente de lidar com o esporte de rendimento. Este das federações, aonde se formam futuros profissionais nos grandes times como Botafogo, Fluminense, Vasco e Flamengo. Na escolinha há que se dar espaço para todos participarem e, na imensa maioria das vezes, os times em quadra dispõem de jogadores com níveis de habilidade muito diferentes. Nas federações, por definição, o que existe é a seleção dos mais aptos. São trabalhos completamente diferentes – mas lá, como cá, todo mundo quer vencer.
Assim, neste nível de jogo, quando enfrentamos um adversário reconhecidamente mais forte (física e/ou técnicamente), há que se saber jogar com os recursos do jogo real: como enfrentá-los?
A ideia é apostar em outras ferramentas que não só a habilidade. O bloqueio de determinados espaços da quadra; o uso da velocidade; a disciplina tática; o velho contra-ataque; as bolas longas.
Jogando assim, muitas vezes uma equipe passa a impressão de um jogo feio. E pode ser mesmo, diante do belo ideal estético que temos. Mas isso também pode gerar um baita aprendizado. Reconhecer suas limitações, apostar em sacrifícios, buscar soluções, adotar uma postura valente.
Quando funciona é uma maravilha, a equipe sai de quadra sentindo-se Davi contra Golias. Quando dá errado, evidentemente, nos pomos a pensar: “E se tivéssemos feito assim? E se tivéssemos feito assado?…” Mas o ‘se’ não joga. E o nosso compromisso, com a molecada, é o de ser verdadeiro com eles.
Sonhar é preciso, mas a tábua dura da quadra exige também outras coisas.
Aquele abraço, saudações esportivas

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