Resignados
Invariavelmente, quando me deparo nestes tempos com uma criança de máscara – e vejo cada vez mais crianças bem pequenas usando – percebo uma ponta de angústia em mim que dispara a pergunta: “como é ser criança de máscara?”.
Porque nós, adultos, não sabemos nem jamais saberemos o que é isso, como é viver essa infância. Já não vivemos assim em nosso tempo de criança. Fico então no registro do impossível, e só me resta observar e escutá-las.
A capacidade humana em adaptar-se é o que, efetivamente, nos fez atravessar a seleção natural da História. Elas se adaptam, mas é legítimo perguntarmo-nos a que custo.
A máscara, claro, não é o problema em si (é uma solução na verdade), mas termina por condensar uma representação da experiência brutal que temos vivido.
As interrupções, de movimento e convivência a que temos sido submetidos (o corpo, suas possibilidades e socialização reduzidas), impactam cada família de acordo com a situação material, afetiva e social, particular e de cada nicho.
No entanto, algo soa comum: creio que seja o olhar.
O nível de resignação e disciplina a que eles têm se submetido para atravessar a pandemia, não acredito que nenhum adulto vivente tenha a capacidade de imaginar ou dimensionar – pelo simples fato de não termos essa marca.
Talvez seja esse olhar, resignado de maneira tão precoce, que dispare a angústia que sinto quando observo estes pequenos rostos mascarados. Uma liberdade contida e represada, que não combina com o sentimento de infância.
No registro do impossível em que me encontro, assim, busco toda a solidariedade do mundo para que essa resignação, que eles sabiamente adotam, não se transforme em desesperança.
Creio que esse é um de nossos grandes desafios.
Boa Páscoa e muita solidariedade pra nós,
Saudações esportivas
Belo texto Tupi, saudações alvinegras !!!
Belo insight, Rodrigo.
É mesmo algo que não temos como dimensionar.
Só o futuro nos trará a resposta.
Acho que não devemos encarar com naturalidade o uso de máscaras e, para que eles não fiquem desesperançosos, devemos lembra-los sempre que isso vai passar e eles poderão voltar a ser as crianças que merecem ser, sem medo e sorrindo para que todos possam ver.
Grande abraço,
Klaus
Olá Rodrigo,
Como eu gosto de ler o que você escreve!
Saudações rubro-negras!
Obrigada Rodrigo !
Lindo lindo texto
Feliz Páscoa!
Adoramos, eu e o Luís!
Oi Rodrigo,
Mais um lindo texto seu! Profundo, e que nos faz refletir sobre tudo o que estamos vivendo.
Também tenho refletido à respeito disso tudo. Não exatamente nas máscaras, mas todo esse “mundo” de privações tem constantemente me recordado meu pai, que, nascido em 1933, tinha quase a mesma idade de meus filhos (Joaquim e Helena) quando estourou a 2ª guerra mundial.
Se por um lado foram anos difíceis, a dificuldade da guerra fez de meu pai uma pessoa que jamais se seduziu pelo consumo, tinha uma visão mais “consciente” do consumo, do desperdício, e da vida e das coisas que realmente são importantes.
Prefiro achar que, além do inegável sofrimento, esta experiência pode ser muito valiosa para forjar uma geração menos fútil, e que dê mais valor ao afeto, às relações humanas e à vida.
Grande abraço
Obrigado, pessoal!