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Rivaldo e o pé da trave

Caríssimos,
O blog Chutebol faz reverência ao cracaço Rivaldo, que anunciou aposentadoria na última semana. O vídeo abaixo traz um gol simplesmente sensacional, uma das bicicletas mais lindas que, dos peladeiros aos imortais dos gramados, todos sonharam fazer um dia. Detalhe: não era qualquer jogo, era partida decisiva – e o gol, igualmente decisivo, que colocou o Barça na Champions daquele ano. Quer mais? O gol foi aos 43′ do segundo tempo. Gol de craque, decisivo, uma pintura pra ver e rever. 
Pertenço a uma geração que viu, como bem definiu Romário, o último suspiro do futebol romântico. Entre meus ídolos figuravam Bebeto, Careca, Romário, Taffarel, Renato Gaúcho. Mais à frente, Ronaldo, Ronaldinho, Edmundo. Mais atrás, vi o final da Era Zico, e todos os craques que sustentaram o que se chamou Futebol-arte. Dei sorte de ver um pouquinho. E dei a sorte de ver Rivaldo. No auge.
É engraçado como, muitas vezes quando estamos treinando com a molecada no clube, precisando aprimorar as finalizações, invariavelmente me refiro ao Rivaldo – e preciso perguntar, para me certificar: “Vocês sabem quem foi o Rivaldo?“. Parece que muitos sabem, mas não dão muita bola; outros, realmente não sabem; uns tantos dizem que sim e finalmente abrem um sorriso. Preciso então ressaltar porque me refiro ao Rivaldo num treino de finalização. Não é difícil.
Rivaldo buscava o canto. O cantinho. O pé da trave. Seus chutes podiam nem ser os mais fortes – mas iam no pé da trave. Um tormento para os goleiros. Na gíria do boleiro, dizíamos “Joga a luva, goleiro!”, pra ver se alcançava a bola milimetricamente colocada, com carinho e esmero, aonde a maior envergadura não chega. Foi um jogador altivo, elegante, tão decisivo quanto cerebral. Categoria é uma palavra que pode defini-lo. Pois bem, e por que a molecada de hoje não lembra dele (mesmo que não o tenham visto no auge, como também não devem ter visto Ronaldo, o Fenômeno) com a importância e talvez o carinho que mereça um craque desse porte? 
A mim, parece que Rivaldo era avesso ao culto à imagem. No início da era midiática, quando passou a figurar entre os grandes, jamais se preocupou com a chuteira laranja, o gel no cabelo, a tatuagem, a entrevista forçada. Perdeu o bonde da história e ficou resmungando, já ouvi alguns dizerem. Como se resistisse aos tempos da autopromoção, preferiu reclamar de preconceito da mídia contra ele, por ser de Pernambuco. Engraçado. Não lembro da voz de Rivaldo. Lembro de ele ter sido eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA em 1999; lembro de admirar a facilidade com que batia na bola; de sua incrível categoria; lembro da bola no pé da trave. Até de bicicleta.
Acho que entendi. Voltando à molecada, é por isso que costumo evocar Rivaldo quando treinamos finalizações – o Rivaldo batia sempre no pé da trave. Parece que é isso: ele buscava o cantinho. Buscou com tanto afinco que, se para ele sobrou só um cantinho na mídia, por outro lado, para quem o viu jogar, também guardou um cantinho sagrado no coração dos boleiros. Inexpugnável.
Obrigado, Rivaldo!
Aquele abraço, saudações esportivas

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