Ser ou não ser

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 07/07/2015 |
Categorias: Sem categoria
Prezados (as),
É natural as crianças, à medida em que vão crescendo e se desenvolvendo, ficarem se medindo com seus pares: ‘sou maior que fulano, menor que sicrano, faço melhor isso ou pior aquilo’, etc. Claro, não só as crianças, nós adultos também o fazemos – pela lógica da coisa, desde crianças. 
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E nisso não há nada de errado, já que todos crescemos, também mas não só, por meio das identificações que vamos conseguindo construir no decorrer da vida. De dentro de casa para fora, do modelo parental para as rivalizações da escola, para a vida social mais ampla – e hoje em dia com os modelos implacáveis (e sem fronteiras definidas, já que estão tanto em casa como na escola, como em qualquer lugar e a qualquer tempo) do mundo virtual e midiático. Bem sei que aí existem questões fundamentais para pensar o século XXI, mas não é esse o ponto ao qual pretendo me deter por ora.
Assim como estas comparações fazem parte do desenvolvimento normal, elas por vezes dificultam a vida do sujeito se ganham o peso de algo em excesso. Gera sofrimento. Chegando ao meio desportivo e ao futebol, mais especificamente, é comum quando uma criança desiste de praticar uma modalidade. “Ele diz que é ruim“, diz a mãe ora resignada, ora meio jururu. O professor se põe a pensar.
Lembra de como era o Joãozinho nas aulas: realmente, não era um craque. Mas lembra de seu desenvolvimento ao longo do tempo, de seu crescimento e de suas aprendizagens. O professor se recorda também de que expunha este tipo de questão para a turma, fundamental para que não ficasse o não-dito. As pessoas são diferentes, têm recursos diferentes, podem contribuir com a equipe numa partida de diversas maneiras. Isso é sabido pelas crianças mas, se o adulto não abre este espaço para que isto seja dito, o mais fácil de acontecer é ficar o fantasma da divisão entre ‘bons’ e ‘ruins’. Quero dizer que as crianças percebem quem é bom de bola e quem não é, e não adianta ficar tapando o sol com a peneira, com o discurso boboca do ‘aqui todo mundo é igual’. Não, não é, ainda bem. Mas como abordar isso?
Pois bem, evidente que não nego que existam bons e ruins – mas isso só vale ser posto desta forma no sarro da pelada dos adultos, no jogo dos profissionais. E aí não se trata de ser politicamente correto porque, se estamos falando de educar pelo esporte, ao pequeno jogador que seria tido como ‘ruim’, pode-se (deve-se) apresentar a ele possibilidades de aprender maneiras de jogar. Pelo posicionamento, pela noção de solidariedade e de valentia, pelas técnicas básicas do jogo. Mesmo que não seja craque, aquele um vai estar ao menos equipado para participar e competir. Do seu jeito.
É aí que entra a questão da comparação, lá de cima. Em algum momento, se a criança diz que não quer mais jogar porque é ruim, mas pais e/ou professor relembram de seu percurso positivo no esporte, cabe perguntar: ruim comparado a quem? Ao quê? Se isso é comum na infância, é mais ainda na entrada da adolescência. Digo: qual modelo de comparação está tão pesado a ponto de o aluno querer desistir, de não reconhecer e sustentar a própria singularidade na maneira de fazer as coisas? Porque a comparação e a rivalização são necessárias, e mesmo estruturantes – o que estou falando é do excesso acima referido.
Podemos pensar em vários aspectos: um Ideal parental, um Ideal escolar, um Ideal midiático-social. A teia de tudo isso na qual o sujeito está inserido, à sua revelia. Ele nem percebe, claro. Quantos adultos também não? Quão bom alguém tem de ser para, simplesmente, fazer aquilo que gosta? Bom para quem? 
Uma criança pode desistir de um esporte genuinamente. De boa, porque cansou. Ou não. É preciso atenção. Vejo a infância atual, muitas vezes, com um compromisso muito cruel com o sucesso. Com uma ideia de eficiência muito precoce. Isso gera confusão e é contrário ao próprio tempo de maturação de suas capacidades psicomotoras e sociais. 
O bom é diferente do Ideal
Aquele abraço, saudações esportivas

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7 Comments

  1. Carol julho 7, 2015 at 11:21 pm - Reply

    Boa Rodrigo, adoro seus textos

  2. Leticia Rocha julho 8, 2015 at 9:04 am - Reply

    Excelente texto! Parabéns!

  3. Rodrigo Tupinambá Carvão julho 8, 2015 at 11:46 am - Reply

    Valeu a força!

  4. Leana julho 8, 2015 at 11:48 am - Reply

    Perfeito.
    Abc

  5. Tânia Veloso julho 8, 2015 at 11:24 pm - Reply

    Ótimo texto Rodrigo!!!
    "Papai eu sou bom?"
    Quando vai reunir tudo o que escreve e publicar??? É nitido ver como os conceitos da Psicanálise estão todos ali, descritos de forma palatável e para Todos!!
    Essa não é tarefa fácil!
    Parabéns!
    Publique!
    Bj
    Tânia

  6. Andréa Wakigawa julho 9, 2015 at 12:25 am - Reply

    Obrigadíssima pelos seus textos Rodrigo!
    Se possivel gostaria de ressaltar a importancia dos valores passados pela família, nas palavras e atitudes! O professor e a turma têm imensa e importantíssima contribuição, não é a toa que nosso filho esta sob o seus ensinamentos, mas nao basta todo a orientação dada pelo professor se pais e mães não acreditarem e reverem seus valores!
    Parabéns pelo belo trabalho!
    Andréa mae Joao Wakigawa

  7. Rodrigo Tupinambá Carvão julho 9, 2015 at 9:28 am - Reply

    Olá Andréa,

    Obrigado pelo comentário no post =)

    Olha, isso que você apontou é uma verdade verdadeira!

    Sem a família por perto (ainda que cada família se organize à sua maneira) como amparo, tudo fica muito mais difícil…

    Um abraço pra vocês

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