Sobre o bullying
Prezados (as),
A molecada está entrando de férias, mas o tema é atual, pois a trama não é incomum: os pais comentam, com a devida preocupação, que o filhote está passando por um momento difícil porque, na escola, está sendo vítima de bullying. O termo em inglês ganhou notoriedade nos últimos anos ao definir um tipo de violência física e psicológica, uma espécie de perseguição contra alguém. Nos casos escolares menos graves, uma implicância exagerada que beira a covardia. Nos mais graves, o abuso a partir da desigualdade de forças.
O professor se pega em dúvida, trata de pensar. Os casos mais recentes diziam respeito a crianças muito novinhas: cinco, seis, sete anos. Surgem as primeiras imagens relativas à própria infância, os registros afetivos das brigas, dos ódios e das paixões infantis. Num emaranhado próprio da complexidade do tema, vêm à tona os eventuais comentários alheios que desdenham do próprio uso do termo em inglês – como sendo mais uma joia da cafonalha moderna, ao velho estilo “no meu tempo a gente saía logo no tapa e todo mundo se resolvia”.
Prefiro ir por partes. Quando o assunto me soa complexo, prefiro recuar e ir por partes. Ainda mais quando é pra falar da dor alheia.
Me parece verdade que o que hoje se nomeia bullying sempre existiu. Não precisa diploma pra constatar isso, creio que é algo aceito. No entanto, nomear algo permite abordar um problema real, um fenômeno que está se impondo. A covardia é um dos atributos humanos e, se me permitem, a psicanálise já desidealizou a infância como Éden faz mais de um século. Ela é bela, mas não só. Também se sofre na infância.
Mas o que chama a atenção nos relatos recentes é justamente a idade dos envolvidos. Porque a intensidade do drama é fator fundamental para interferir no que está acontecendo. As implicâncias fazem parte, uma ou outra briga, também. Aliás, já tivemos casos nas aulas em que as famílias, mais do que as crianças, passaram a se estranhar, e aí recorremos ao que tínhamos à mão: conversar com as próprias crianças envolvidas. O inusitado da questão foi a confissão, perturbadora: “Eu fico indo atrás do Zezinho porque eu gosto muito dele e queria jogar que nem ele joga“. O não-dito foi dito e, finalmente, as coisas aos poucos puderam se acalmar.
Não pretendo com isso romancear um problema real, mas, quando se trata de tão tenra idade, é forçoso perguntar: cadê a escola aí?? Quero dizer: quais estratégias a escola utiliza para e-fe-ti-va-men-te ajudar os alunos em seu processo de socialização? Porque, ao que me consta, de todo o vasto repertório pedagógico exigido atualmente, duas são as coisas que realmente importam: habilidades cognitivas (ferramentas para acessar o conhecimento) e socialização. É debaixo destes dois grandes guarda-chuvas que se encontram todos os outros tópicos e possibilidades de infinitas combinações para uma educação que ajude o sujeito a se situar no mundo.
Então, é preciso estar atento. Vejo o bullying como uma grave dificuldade de socialização no processo educacional. É preciso observar: na escola, os alunos, efetivamente, brincam? Existe uma real preocupação com as relações sociais? Os professores estão capacitados para mediar os pequenos grandes dramas infantis? Há propostas de atividades facilitadoras do convívio, o trabalho das diferenças? De verdade, tudo isso pode ser trabalhado com brincadeiras diversas, por um simples motivo: as crianças gostam – logo, se interessam e aprendem sentindo o suor no rosto, na vida real.
Ao contrário, se a proposta for extremamente conteudista, os riscos de se deixar de lado o processo de socialização – como se isto fosse algo ‘dado’ – são grandes. A gente vai se humanizando aos poucos, então é preciso contar com referências. No entanto, parece muito mais fácil, para a escola, perceber um grupo mais forte que escolhe alguém pra implicar; pedir pra parar; fazer esta ou aquela ameaça; punir aqui e ali e depois, diante do insucesso, tascar: é bullying.
Reconheço o problema. É real. Mas é dar muito poder a crianças tão novinhas. Se estiver rolando algo estranho, que causa sofrimento, dá pra trabalhar muita coisa. Educar, digamos. Cravar que uma criança de cinco anos está cometendo bullying com a outra é deixá-la acreditar em sua onipotência – e ficar ela, escola, num lugar extremamente infantil.
Aquele abraço, saudações esportivas
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Muito bom, Rodrigo. Tenho uma opinião sobre o bullying: Criança que leva tapa e não revida é candidata certa a sofrer bullying. A culpa, então, é dos pais da vítima.
Abração.