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Sobre ser Professor – uma reflexão

O dia 15 de Outubro passou, mas o Chutebol não esqueceu, não: foi Dia do Professor – assim, com maiúsculas mesmo. E, a despeito dos últimos acontecimentos, das posições ideológicas variadas, das tentativas de apropriação da Educação (também com maiúscula) seja por qual lado for, lembramos que ninguém por aqui se educou, aprendeu, se debateu e por fim, cresceu (!), sem ao menos um punhado de professores dignos deste nome ao seu redor. Vá lá, um, que seja.
 Seja conservador ou progressista, liberal ou socialista, a figura que se apresenta ao aluno como portador de um discurso, se for – repito – digno do nome de professor, saberá se apresentar como tal. Afetuoso aqui, duro ali (aliás, um é decorrência do outro); assertivo num ponto, duvidoso noutro; de bem com a vida num dia, chateado noutro; cumpridor, digamos assim, da moral e dos bons costumes como os conhecemos, não abrindo mão de pressupostos civilizados de convivência – sabendo, junto a isto, preservar a liberdade necessária para a circulação de afetos e ideias que, se não puderem circular pela escola, circularão aonde forem acolhidos, e a vida não é só um mar de rosas, não sejamos ingênuos. Vão circular, é fato.
Parecem favas contadas, mas não são: a complexidade que cabe nas gentes deve caber triplicada num professor, sob pena de este cair em descrédito com seus alunos. Foi Woody Allen quem falou, num de seus filmes brilhantes, para sua interlocutora (sua sobrinha, na trama), que era melhor ela prestar atenção em como seus professores se comportavam do que no que diziam, porque aí de fato ela poderia aprender alguma coisa. Partindo desta ótima premissa é lícito supor que o distinto mestre que se apresenta com alguma máscara, qualquer que seja ela (revolucionário, bonzinho, repressor e tantas outras), teme alguma coisa. A saber: o aluno. E o que teme um professor assim? Que o aluno saiba que ele (professor) também não sabe alguma coisa. Que não pode saber tudo. Mas aí é que está: esse ‘não saber tudo’ não deve ser motivo de descrédito. É simplesmente próprio do processo educativo e, assim aprenderão os melhores de nós, é próprio da vida. O aluno poderá se confrontar com isso, se o professor assim o fez.
Mas de modo algum isso deve remeter a um professor sem rosto, chapa-branca, mas ao contrário: aquele que pode apresentar-se em sua singularidade, com seus medos e defeitos, para que, ao falar a partir de suas qualidades, possa transparecer ao aluno o melhor de si: a honestidade diante dele, aluno. O que importa a este último é que o professor, representante direto em segunda instância da autoridade parental, esteja lá. Marque sua presença. Para ajudar, para ensinar, para confrontar, para perguntar. Privar o aluno tanto do confronto como da liberdade é um erro. E isso só pode se dar estando presente, de verdade, de corpo e alma.
Freud dizia que educar é uma das profissões impossíveis. Dentre outros motivos, porque supunha o inconsciente e, como a educação se dá a partir da consciência, é impossível saber aonde vai dar, direcionar, assegurar-se completamente.

E é bom que assim seja.

This Post Has 11 Comments

  1. Parabéns Rodrigo, pelo trabalho tão bacana e consistente que realiza com essa meninada!
    São de educadores assim que o nosso pais tanto precisa!
    Um abraço
    Tania

  2. Rodrigo,

    Obrigada por ser um professor com esse olhar que conjuga tão bem a individualidade com as necessidades práticas da vida.

    Bjs!

    Nathalie

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