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Tostão no Chutebol!

Caríssimos,
O blog Chutebol tem a honra de receber a visita do craque Tostão e, junto com ele, a mineirice, a simplicidade e a lucidez. Tostão tornou-se médico (o que é sabido), concluiu uma formação em psicanálise (o que não é tão sabido assim) e é, atualmente, colunista de diversos jornais. Compilou suas crônicas sobre futebol e lançou um livro. Apresentamos então uma delas, em que o craque desmistifica muitas bobagens que andamos ouvindo por aí. Boa leitura!

Sonhador Quixotesco
“Escuto, com frequência, de técnicos e comentaristas, até dos que admiro, expressões do tipo ‘Nenhum craque joga sozinho, como acontecia no passado‘, ‘Hoje, futebol é coletivo‘, ‘Ninguém joga bem hoje sem um bom preparo físico‘, e tantas outras. No passado, não era diferente, dentro do estilo de jogar e dos padrões físicos da época.
Muitos jovens – técnicos, jogadores e fanáticos por futebol -, influenciados pelo que leem e escutam, acham que os jogadores do passado andavam em campo, que não havia esquema tático, que ninguém marcava e até que os craques não jogariam no futebol de hoje. No passado e no presente, o futebol é dividido entre os que sabem jogar e os que não sabem. A diferença é que, hoje, dão muito valor também aos que não sabem.
Já escrevi milhares de vezes que os craques, do passado e do presente, só brilham intensamente, com raras exceções, quando atuam em equipes organizadas. Messi, na seleção da Argentina, é um bom exemplo. É óbvio também que é essencial ter um bom preparo físico. Sempre foi assim. 
(…) Craque, do passado e do presente, precisa ter funções e referências em campo. Só assim se sentirá seguro para improvisar e criar. O Cruzeiro, nos anos 1960, tinha uma excelente equipe e um ótimo conjunto. Todos tinham funções definidas. A de Dirceu Lopes era não ter nenhuma função. Por suas características, Dirceu Lopes precisava de muito espaço e muita liberdade em campo, para atuar por todos os lados. A disciplina tática ficava por conta dos outros jogadores. Valia a pena deixá-lo livre.
Além do excepcional preparo físico para a época e da presença de vários craques e do Rei Pelé, a seleção brasileira de 70 tinha grande força coletiva, fizemos uns quinhentos treino táticos. Na época, Zagallo estava à frente de outros treinadores. Todos tinham função e cumpriam. Até Pelé.
De vez em quando, me pedem para falar mais de minhas experiências como atleta. Tenho a preocupação de não superestimar as coisas de outras épocas. Havia também muitos times medíocres e jogadores desse nível, mesmo em grandes clubes. Outras pessoas acham que quem gosta de passado é museu. A palavra saudosista passou a ter conotação preconceituosa, para falar de quem acha tudo do passado melhor e de quem não acompanha o progresso. Não coloco a carapuça.
Vejo e observo tudo o que acontece no futebol de hoje e sei separar as coisas boas e ruins, do passado e do presente. Não sou um sonhador quixotesco nem um deslumbrado pelo modernismo e por algumas idiotices da tecnologia.”
[Adaptado de ‘A Perfeição não existe‘, Tostão, 2011]

This Post Has 7 Comments

  1. Oi Mario, muito legal teu comentário.
    Pois é, a ideia não é fazer apologia do passado, mas exercer uma crítica do futebol atual que, como você disse de outro jeito, está com um nível realmente muito baixo, na média. Claro, ainda assistimos a grandes jogos, mas a média é bem ruinzinha mesmo. E a CBF só piora a situação… Grande abraço!

  2. O que entristece a nós que tivemos a oportunidade de ver a geração de 70/80 jogar com Rivelino,Tostão,Pele,Gerson,Zico,Adilio,Andrade,Carpegiani,Falcão,Socrates….e etc Ter que conviver com mediocridade do futebol atual , dos estadios vazios, comentaristas comprados e jogadores inescrupulosos.
    Isto não saudosismo, mas a dura realidade do que temos hoje.
    Por masi que tentemos nos desculpar falando das mudanças do futebol moderno…assistimos os grandes caindo na segunda divisão e os pequenos mais pequenos.
    Não podemos achar séria uma instituiçaõ com a CBF olhando os seus dirigentes , nem tão pouco os clubes com seus presidentes.
    Não quero fazer a apologia a tragédia…mas o que nos sobra é dar aos nossos filhos as lições do passado, para que eles olhem o futebol com este exemplo e não pelo que veem hoje nos noticiários.
    Futebol é de todos os espotes coletivos o que tem mais sinergia com o publico de forma socializante , ao contrario dos demais que são excludentes.
    Como conclusão eu diria criem seus meninos futibolistas com a base em
    atletas como tostão, que dignamente saiu de campo qdo não pode mais fazer o seu melhor…e continuou a vida em uma outra carreira nobre, sem abandonar a aura do craque , o espirito critico e construtivo de um grande cidadão.
    Abs
    Mario Braile (pai do Rafinha)

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