Trabalho em equipe
O manejo de um grupo, ou dos grupos dentro de uma mesma turma, é parte fundamental do trabalho de um professor.
Por manejo, me refiro ao modo de agir de acordo com uma percepção das características do grupo, aspecto elementar a ser decifrado. Os grupos, para além da soma das individualidades, apresentam uma característica própria, que acaba por configurar sua identidade: valores, hábitos e um imaginário próprio.
Antes de mais nada, é preciso ter clara a ideia de que um grupo é algo construído, ao menos o sentimento de pertencer. Muitas pessoas juntas, sabemos, podem estar completamente afastadas umas das outras, sem o sentimento de comungar daquela maneira de ser, agir e se relacionar.
No trabalho com crianças e adolescentes é muito comum existir, numa mesma turma, um ou mais grupos. O trabalho do educador/a fica sendo, assim, ajudar numa costura no sentido de unir as partes, sem que elas se dissolvam necessariamente. O fantasma de perder os amigos mais próximos ao entregar-se a um grupo maior, em construção, pode criar barreiras para a ajuda mútua entre pessoas ainda sem alguma intimidade.
Num caso recente, apresentou-se no início do ano uma turma com dois grupos bastante definidos. O trabalho inicial, de tentar misturá-los inadvertidamente, não produzia bons resultados. Eles simplesmente não estavam maduros para aquele passo.
A aposta passou a ser, então, reconhecer a existência de dois grandes grupos que ainda não formavam uma turma – e isso foi dito e esclarecido em rodas de conversa com as crianças, que prontamente reconheceram a situação. As atividades, assim, passaram a ser feitas em sua maioria respeitando essa divisão inicial, a partir das afinidades que já existiam.
Quando ficou garantido o reconhecimento das antigas amizades, foi possível, aos poucos, a experimentação de outros pares e, mais adiante, aventurar-se com grupos de colegas outrora ‘estranhos’. O fantasma de perder os amigos havia sido desfeito e, com isso, a possibilidade de integrar-se a um grande grupo, que englobasse aqueles dois iniciais, efetivou-se.
Qual não foi a surpresa do professor, ao chegar no ginásio e a turma toda estar, antes de começar o treino, jogando uma autêntica pelada com todos os integrantes da turma, divididos em equipes por eles mesmos.
Somente a partir daquele momento uma única turma passou a ser considerada como tal, e foi visível o regozijo dos alunos com a conquista. Os objetivos, agora comuns, cabiam numa identificação grupal com esta e aquela proposta: sistema de jogo, valores do time, códigos morais e de conduta – de fato, um trabalho em equipe. Longe da perfeição, felizmente, mas num solo comum mais amigável.
Após este árduo trabalho coletivo é possível, ainda, pensar que dali, de maneira insuspeita, poderão até mesmo surgir amizades verdadeiramente novas, alargando o horizonte desta ou daquele criança para enxergar o mundo além de seu círculo inicial mais confortável.
Quando isso acontece, tomamos como uma espécie de cereja do bolo; afinal, para além da educação e do esporte em si, o melhor de jogar futebol é poder fazer novos amigos.
Aquele abraço, saudações esportivas
Bela reflexão, Mestre!
Que relato bem legal! Parabéns pelo trabalho! Meu filho adora o futebol e todos da turma. É um grande prazer pra mim vê-lo fazendo grandes amigos, se divertindo e aprendendo os valores que vocês ensinam.
Grande abraço.
Excelente texto Tupa!
Parabéns mais uma vez. Sempre cirúrgico!
Abs
Obrigado pelo carinho com o projeto, pessoal!