Confinamento e estresse

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 09/04/2020 |
Categorias: ChutebolSaúde Pública

Diversos relatos nos chegam sobre como as crianças e seus familiares estão lidando com a quarentena, que se traduz em um confinamento.

Ficar confinado não é, nem nunca foi na história humana, algo banal ou simples.

A necessidade de movimentar-se está enraizada no desenvolvimento de cada um, na medida em que aprendemos a conhecer o mundo justamente a partir dos movimentos do corpo, desde a sucção no peito da mãe, às primeiras reações faciais, a percepção de que dedos, mãos e pés (as extremidades do corpo) também nos pertencem – até andar, caminhar, correr, pedalar… jogar.

Os relatos incluem crianças enfurnadas no videogame, crianças com maior ou menor disponibilidade dos pais, crianças com playground ou sem, crianças com irmãos ou não, com salas grandes ou pequenas.

Daí que as reações podem ser diversas por conta, naturalmente, da conjugação de fatores a que estão submetidas, bem como de suas próprias características pessoais.

Um confinamento é uma limitação imposta de movimentos mas também da alma. Mesmo diante das diversas adaptações que nossa espécie é capaz de fazer, a privação de liberdade é um estresse em si. Gera cansaço mental na tentativa de se viver, constantemente, um ‘novo normal’.

(Existem, claro, crianças e adolescentes que podem mesmo sentir mais conforto numa quarentena, com os pais em casa e talvez uma rotina mais previsível ou mesmo mais tranquila. Pode ser interessante refletir sobre o que a criança estava vivendo antes da quarentena).

Mas reações como apatia, tristeza, ou reatividade podem começar a surgir em função do tempo e, talvez em nosso caso, da imprevisibilidade – ainda não temos data para isso acabar. A falta de controle da situação pode ser assustadora.

Tais reações podem ser consideradas normais diante do novo normal. Mas não altera o fato de que o sofrimento esteja presente. As crianças entendem a situação como podem, e também se preocupam com os familiares e em cumprir sua parte.

Se ou quando reações assim se tornarem repetitivas, é interessante abrir um espaço de escuta, fazer falar. Até porque, falando ou não, estes meninos e meninas vão expressar sua angústia nas reações que descrevi, podendo também rolar um xixi na cama, uns pesadelos, ou outros medos.

Tanto melhor se os pais e familiares puderem, nestes casos, expôr seu sofrimento numa linguagem acessível, razoável. O sofrimento, quando partilhado, pode ser melhor suportado.

Não deixa de ser uma expressão de amor.

Aquele abraço, saudações esportivas

(*com ilustração do goleirão Rafael Castro)

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