Criança & consumo
Caros,
Transcrevo abaixo um pequeno recorte do “LeMonde Diplomatique Brasil”, de Dez./2008, assinado por Yves de Taille, professor titular do Instituto de Psicologia da USP.
É uma continuação da postagem “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, de Dezembrode 2008, com um vídeo sobre consumismo e infância. Aí vai:
“Enquanto milhares de pais e mães vão freneticamente às compras para adquirir os presentes ‘encomendados’ pelos filhos (…), poucos deles sabem que está em discussão, no Brasil e no mundo, a problemática relação infância-consumo e a questão da publicidade dirigida ao público infantil.
São dois os objetivo básicos da publicidade: 1) informar que tal produto ou serviço existe com tais e tais qualidades, e 2) convencer o vitual consumidor a adquiri-lo. (…) Isto posto, espera-se de um adulto que tenha recursos intelectuais e afetivos para resistir à sedução publicitária, notadamente quando essas fogem totalmente a qualquer verossimilhança com a vida real. Mas qual será o poder de resistência de uma criança?
(…) Existe um verdadeiro ‘exército simbólico’ que adentra as defesas psíquicas ainda frágeis das crianças, para convencê-las a comprar isto e aquilo. Portanto, têm toda a razão as pessoas que querem, no limite do possível, protegê-las. (…) Vivemos numa sociedade que se convencionou chamar de socidade de consumo, e, é claro, dela participam as crianças (…). Todavia, trata-se de prepará-las para serem consumidores conscientes. (…) Significa, por exemplo, fazê-las paulatinamente compreender as relações entre consumo,trabalho e economia, para terem consciênca do real valor das mercadorias e não pagarem, como o fazem tantos adultos de conta bancária abastada, preços claramente abusivos somente porque determinados produtos são vendidos em tal lugar ou produzidos por tal marca.
E ser consumidor consciente é também avaliar o significado psicológico do ato de consumir, ato esse que, sabe-se, é para muitos, na contemporaneidade, um ato frequentemente desvinculado de necessidades concretas, materiais. (…) Faz todo o sentido o seguinte diagnóstico de Jurandir Freire Costa: ‘O objeto (que é consumido) deve agregar valor socal – e não sentimental – a seu portador, ou seja, deve ser um crachá, um passaporte que identifica o turista vencedor em qualquer lugar, situação ou momento da vida. Consome-se, entre outros motivos, para poder dar um espetáculo de si, para demarcar-se, para parecer (ou mimar) os ‘vencedores’ e as ‘celebridades’.
(…) Quando vejo garotos e garotas vestidos com roupas de grife, com tênis importado, celular de última geração na mão – como o iPhone -, câmera digital pendurada no pescoço etc., temo não estarmos na direção pedagógica correta. E de pouco adiantarão leis que coíbam a publicidade dirigida ao público infantil, se os própios adultos, entregues ao consumismo e à cultura da vaidade, forem às compras, motivados e seduzidos pela imagem que seus filhos (…) terão diante das outras crianças.”
Saudaçõs esportivas, aquele abraço
às x me sinto remando contra a correnteza… Por mais que eu ensine o valor das coisas e que não precisamos de tanto, meu filho (assim como nós todos) vivemos em um mundo consumista em que precisamos TER para SER. Tenho muito orgulho de ver que meu filho não tem apego a bens materiais, mas é muito difícil ter 8 anos e entender que se vc não tem o joguinho de última geração isso não significa que vc não é uma pessoa digna…
Grande Prof. Tupi!
Comentário oportuno e corajoso, espero que esclarecedor para o ambiente no qual trabalhas.
Abs! Guilherme Locks
Dos meus 40, metade tenho de mãe, e me orgulho hoje de ver minha filha com 20 anos nunca ter sido engolida pelo consumismo. E creio estar trilhando um bom caminho com meus outros pequenos, que têm se apresentado bem felizes sem precisar ter objetos concorridos…
Bacana poder estar perto de vc nessa vida, Rodrigo, contar com sua atenção ao mundo e com sua participação na formação de meus filhos. Um grande beijo!