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O desejo de vencer

As competições de futebol infanto-juvenil podem ser grandes aliadas na educação esportiva, com reverberações positivas na vida social mais ampla. Para que isto ocorra, no entanto, algumas condições precisam se apresentar, e gostaria de colocar algumas delas.

O elementar é que, para crianças e adolescentes não federados (ou seja, que não jogam em clubes ditos ‘oficiais’, com representações profissionais), o ambiente de jogo competitivo seja cuidado e preservado pelos adultos presentes – familiares e professores. É um trabalho conjunto, no qual o lugar reservado a cada um na fantasia própria da competição não pode transbordar.

Quero dizer com isso que faz mal à criança o pai que busca, aos berros, tomar o lugar do professor passando instruções. Ou por exemplo, do treinador tentar ocupar o lugar da arbitragem , com reiteradas queixas. Tais atitudes confundem a criança e induzem a comportamentos que costumamos criticar, quando não somos nós mesmos os agentes deles.

Outro ponto muito importante é a busca por uma sequência pedagógica que faça sentido para o pequeno jogador ou jogadora, na medida em que ela, a competição, também é (deveria ser) um momento de aprendizagem. Sequências de movimentos, percepção do jogo, entendimento da função na equipe e, claro, uma construção emocional para lidar com a montanha-russa de ganhar e perder.

A aprendizagem normalmente se perde de vista quando o resultado é colocado acima de qualquer outro elemento do jogo. Não quero dizer com isso que vencer não importa, na verdade importa bastante; é preciso aprender a vencer. Para isso, no entanto, se estamos falando de aprendizagem e educação esportiva é preciso que existam objetivos pedagógicos razoavelmente claros, e que familiares e professores consigam conjugar esse olhar com o desejo natural de vencer que todos temos.

Nos termos que estou tentando colocar, assim, é forçosamente necessário desvincular a mera reprodução do futebol profissional nas competições infanto-juvenis, sob pena de repetirmos os piores aspectos deste: brigas constantes, violência nas palavras e gestos, um clima de tensão que acaba por estragar a festa, pois quebra a fantasia.

Claro que, num ideal de jogo, mesmo os jogos profissionais e/ou de jovens federados que buscam ser atletas de ponta não deveriam prescindir de muitas das coisas que acabo de colocar, mas isso já seria material para outro texto.

De todo modo, se quisermos continuar a acreditar que o esporte é um elemento importante na educação, se faz necessário um esforço de ficarmos no lugar de adultos, alegremente responsáveis, para que crianças e adolescentes consigam usufruir daquilo que está sendo proposto, entre dramas genuínos em caso de derrotas, e de alegrias inesquecíveis como nas boas vitórias.

Aquele abraço, saudações esportivas

This Post Has 8 Comments

  1. Breve comentário do seu último texto:

    “se quisermos continuar a acreditar que o esporte é um elemento importante na educação, se faz necessário um esforço de ficarmos no lugar de adultos, alegremente responsáveis, para que crianças e adolescentes consigam usufruir daquilo que está sendo proposto, entre dramas genuínos em caso de derrotas, e de alegrias inesquecíveis como nas boas vitórias.”

    Exatamente isso. Parabéns!
    Ambiente saudável ,alegre e divertido.
    Fez falta, pede desculpas.
    Não se pode deixar uma criança se acostumar a dar os carrinhos, que aprendem na tv, nos jogos, jogadas que tiram tantos atletas das suas profissões.
    Futebol é alegria, camaradagem, entretenimento, sem no entanto perder o espírito de ordem e disciplina, oriundo dos professores/técnicos, que qualquer jogo exige, ainda mais em uma escolinha, que é para aprender/melhorar.
    Espírito de grupo, mesmo com aqueles que não são tão hábeis ou com alguma dificuldade, mas que são bravos por ali estarem.
    Fico feliz em ter meu filho com vocês.

    Abraços.
    Muralha, pai torcedor do Pedro Marcos.

  2. Boa Rodrigo! Sempre certeiro…
    Eu fui atleta federado do vôlei do Flamengo, mirim e infantil. Foi uma tremenda escola pra vida.
    Lembro que por causa dessa confusão que alguns pais fazem na plateia (esquecendo que são pais…), Minha mãe ficou tão horrorizada com o comportamento da torcida num Fla x Flu , que ela mudou de time e rompeu com uma família amiga nossa, que tinha um filho que jogava no Flu e era meu amigo de verdade escola… Foi barra pesada, eu nunca esqueço. Pelo menos ganhamos mais uma flamenguista…rs
    O pior disso tudo é que o futebol moderno aprofunda toda essa patologia social, e ainda lucra levantando esporadicamente e midiaticamente as bandeiras da inclusão e justiça social…
    Temos muito trabalho com essa garotada.
    Vcs estão de parabéns!
    Forte abraço.

  3. Boa tarde Rodrigo,

    antes de tudo, parabéns pelo texto, sempre repleto de orientações e lições que mostram o propósito do chutebol de ser mais do que um treino esportivo, um instrumento pedagógico e psicológico para as crianças.

  4. Bom dia. Excelentes colocações! Só para registrar aqui, percebi um enorme crescimento emocional do meu filho para lidar com essas questões. Às vezes, ele sai do jogo bem chateado, mas sempre tento passar a ele que tudo isso faz parte do processo de aprendizagem. É o que está dito: nós, os responsáveis, temos que fazer o nosso papel nesse contexto. Muito pertinente tudo o que foi escrito! Obrigada. Sheila.

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