Histórias Fantásticas de Futebol (7)
Do Título
O jogo estava empatado em zero a zero. Ele era o zagueiro daquele timaço, que estava segurando o empate a todo custo e ia acabar campeão com o resultado, mal podia acreditar.
A bola respingou na área de sua defesa e o goleiro, obediente, mandou pra escanteio. Quarenta e três do segundo, confusão na própria área, o capitão do outro time corria para a batida. Todos posicionados, sabiam justamente o que fazer, era sua a rebatida.
Bastava subir mais e vencer o centroavante adversário pelo alto, enrolar o jogo e levantar a taça, estavam quase lá.
***
O problema era justamente o adversário, seu time de coração que aprendeu a amar da arquibancada com o pai, falecido, e completava naquela data, justo ali, vinte e dois anos sem uma única conquista. Era a chance de ouro.
Na família, no bairro, no clube e até na imprensa ficou famosa a história, o pai era um tocedor folclórico e muito querido. A decisão era no dia de seu aniversário.
O repórter havia perguntado como seria o confronto, se não sentia nenhum incômodo, se as paixões não mexiam com ele. Disfarçou, falou como profissional e foi para o vestiário.
***
E a bola subiu. Viajou quinze metros cortando o ar, atravessando o vento leve que soprava. O estádio em silêncio, respiração suspensa, as duas torcidas com os pulmões cheios e a boca aberta mas muda, naquele instante em que o instinto prepara o grito ou a decepção.
***
Ele também subiu. Venceu o centroavante, alto e forte. Venceu também o goleiro de seu time e, com uma testada fulminante, estufou as próprias redes.
Testou e correu pra galera e, atrás dele, todos os jogadores – dos dois times – e mais as comissões técnicas, numa alegria imbatível.
As duas torcidas pularam, gritaram, se abraçaram.
(De Rodrigo Tupinambá Carvão)