Essenciais

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 14/04/2021 |

Dentre as mensagens carinhosas recebidas por conta da última postagem, na qual descrevi o olhar de resignação precoce das crianças de máscara nessa pandemia, uma em especial  permitiu um prolongamento da conversa. Falava de certa esperança.

Caio Couto, pai do Quim-quim, escreveu-me sobre as memórias da infância de seu próprio pai que, nascido em 1933 e às vésperas da Segunda Guerra, desde muito cedo passou por privações e precisou ater-se às coisas realmente importantes da vida. “Nunca foi uma pessoa fútil”, me falou.

Suas palavras encontraram eco em meus ouvidos pois, além da resignação à qual me referi no texto anterior, crianças e adolescentes, de fato, têm demonstrado sentir falta de coisas outrora consideradas como dadas.

Em tempos de pandemia, encontrar um amigo, bater uma bolinha, ver gente ou ir à escola parecem, efetivamente, ganhar muito em importância. Não a importância, digamos, narcísica dos brinquedos sofisticados ou das frenéticas competições virtuais.

Inclusive a escola, desde sempre colocada como lugar de chateação, ressurge pelo sentimento agudo da falta que fazem as amizades e o convívio. “Aula online é muito ruim, é como se a gente só ficasse com a pior parte da escola!”, um pequeno me disse outro dia.

Diante do imprevisível da pandemia, qualquer previsão soa precária. No entanto, são inevitáveis as buscas pelo sentido daquilo que estamos vivendo, as comparações com o passado e as possibilidades do futuro.

Deste ponto de vista, é legítimo pensar: quando foi que passamos a acreditar que as crianças precisavam de tantas coisas, tantos presentes, tantos badulaques, tanta parafernália? Não foi justamente aí que elas mesmas passaram a crer nisso tudo?

A possibilidade, ao menos para as crianças abastadas, de conviver com a ausência, com alguma privação, termina por impor alguns limites que não faziam mais parte do jogo. A espera, a conquista, até mesmo poder fantasiar diante daquilo que não se tem, pode, em certo sentido, recolocar o sujeito num lugar menos ansioso, menos onipotente, mais humilde até.

A constatação de que o monte de coisas que se tem não é suficiente para se satisfazer (para ser feliz?), aponta para a possibilidade de uma busca, não mais uma busca ensimesmada – mas uma busca no e pelo outro. Sair um pouco de si e sensibilizar o olhar para o entorno, pela necessidade, pode lembrar a todos nós a profundidade de um termo tão atual: o essencial.

Uma vivência tão marcante tem, sim, o potencial de moldar uma geração.

Obrigado, Caio.

Aquele abraço, saudações esportivas

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3 Comments

  1. Lu abril 26, 2021 at 11:06 am - Reply

    Que bonito isso querido!
    Eu concordo totalmente, Antonio mudou muito. Chego a sentir como se ele precisasse mesmo que o mundo parasse um pouco, pra se entender melhor.

    bjos

  2. Ju Marçal abril 26, 2021 at 11:07 am - Reply

    que lindo, Rodrigo!
    Parabéns pelas palavras colocadas com tanta propriedade!
    Depois de um ano nesse “isolamento” tenho observado o cansaço de todos, adultos e crianças.
    Rezando p isso passar logo e p o mundo poder se abraçar e viver.
    Abs.

  3. Chermont abril 26, 2021 at 11:09 am - Reply

    Maravilha de texto , e se nos aprofundarmos no assunto chegaremos a beira da espiritualidade !!!! Muitas vezes o essencial se
    encontra na Alma !!!! Orgulho de ter meu filho desde de pequeno integrado nessa familia que é o Chutebol !!!!

    Uma vivência tão marcante tem, sim, o potencial de moldar uma geração.

    Obrigado Rodrigo

    Forte abraço . saudações rubro negras !!!!!

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