Caríssimos (as),
Virou uma espécie de acontecimento. Quando o time do Barcelona começa a despejar sua artilharia pesada nas redes adversárias, transcorre um par de horas em que todos os que acompanham comentam, boquiabertos, as jogadas e os lances de gol – bem como a incrível facilidade com que este Barcelona de Messi, Suarez e Neymar (o famoso trio MSN) atropela quem vê pela frente.
O fato é que sempre houve, na história do futebol, times vitoriosos e campeoníssimos, mas cabe a pergunta: o que, afinal, encanta neste Barcelona? Do que é composta sua magia, que faz muitas vezes com que marmanjos – e crianças – se interessem mais pelo clube catalão do que por seu clube (brasileiro) de coração?
Sinto que assistir a uma partida do Barça hoje em dia traz um ‘a mais’: algo de fruição estética, de beleza, que nos remete a uma sensação prazerosa mais sofisticada do que o êxtase do gol em si – mas à trama engenhosa de seus jogadores. Digo, não raro o comentário geral é ‘você viu a jogada do fulano até o gol?‘. Ou seja, mais do que estufar as redes, provoca-se uma curiosidade poucas vezes vista, qual seja, a de poder acompanhar, desfrutar das manobras e da plasticidade dos craques até o golpe fatal. Este Barcelona chega a ser cruel: é pragmático e artístico ao mesmo tempo. O ‘a mais’ ao qual me referi parece, ainda, ter um sentido que o impulsiona, que o evoca: a própria filosofia de jogo do clube.
Filosofia esta que traz consigo algo além da tática e das estratégias para vencer. Existe uma espécie de
elegância, cultivada com esmero desde as categorias de base –
las canteras, como chamam. Esta filosofia ficou clara aos olhos do mundo quando, há alguns anos, Pep Guardiola, ex-treinador e ícone do clube, reagiu à pergunta de um repórter acerca de uma determinada derrota: “
Aqui não se joga somente pelo resultado. Defendemos um estilo“.
Aí está: um estilo supõe uma qualidade do espírito. Técnica de jogo é funcional, podendo atingir um grau de beleza quando trabalhada exaustivamente. Um estilo pressupõe, para além da técnica, uma maneira de ser, uma singularidade. Assistir ao Barcelona em seus melhores dias é presenciar algo singular, único, raro. Não ordinário. Sinto muitas vezes um frisson nos amantes da bola quando sabem que o Barça vai jogar uma partida importante. É gente adiando ou enrolando no trabalho, desmarcando reunião, atrasando um encontro. Ninguém quer perder o jogo ali, no momento – por toda essa expectativa: qual será a próxima invenção?
É aí que, a meu ver, reside a magia do Barça: a invenção – que é própria da
brincadeira. O Futbol Club Barcelona
é, atualmente, aquele que tem o maior poder de devolver o futebol profissional ao terreno do lúdico – aquele espaço híbrido entre imaginário e realidade. O espaço da
fantasia. Nem lá, nem cá, mas um
entre. Atende-se ao aspecto pragmático da partida (as regras, as estratégias, o suor e os resultados); mas também ao anseio humano pela beleza e pela diversão.
É disso que diz seu estilo. Tocar a bola de pé em pé; controlá-la, tratando-a com carinho; mover-se com inteligência e combinação de movimentos, até que seja possível atingir o ápice, o momento sublime – o ato de criar, inventar o inesperado. Tudo isso nos encanta a ponto de adiarmos o mecânico relógio do cotidiano. Mas por que tanto trabalho se bastaria vencer os jogos? Por quê?
Tenho um palpite: por amor ao futebol. Não que os outros clubes não amem o esporte. Ou que não seja bom vê-los jogar, torcer por eles. Mas o sentido que tem orientado este Barcelona, vindo das canteras, nos lembra do porquê de competirmos: competimos porque gostamos de jogar. “Que lo disfruten“, costumam dizer seus atletas, referindo-se aos colegas na hora do jogo. Tal é a raiz de sua postura elegante nos gramados. Como se dissessem “vejam, estamos fazendo o que gostamos, da maneira que gostamos, e isso nos basta!“. De fato, Messi, Neymar, Suarez, Iniesta, jogam com uma leveza, uma beleza – e uma amizade – que nos remetem à brincadeira. Estão criando, e criar é precisamente aquilo que empresta sentido às suas ações. Que venha o resultado.
Ao contrário, quando o sentido do esporte é dado exclusivamente pela competição, não raro vemos a postura do vale-tudo para vencer. Lógico: sem a vitória, não há sequer sentido em jogar. A derrota passa a ser um fantasma, um monstro tenebroso. Daí para as agressões e para o desespero, para o destempero e o medo de perder. Uma relação que considero pobre, pois o futebol tem muito mais a oferecer.
Me sinto uma criança quando vejo
este Barcelona jogar. Talvez seja só isso.
Aquele abraço, saudações esportivas
Excelente, Rodrigo!
Oi, Rodrigo. Sugiro a leitura deste artigo como complemento: http://www.thecoachdiary.com/laureano-ruiz-the-man-behind-barcas-playing-philosophy/
A trajetória vitoriosa deste Barcelona começou com uma derrota nas categorias de base. E a pergunta que o futebol brasileiro ainda não respondeu é: quem topa perder para jogar melhor? Um abraço!
Salve Marcelo, eu conheço a história! Devorei o livro "Senda de campeones" (*de Martí Perarnau),que conta toda a história do Barça. Quem consegue perder?
Grande abraço!
RODRIGO, PARABÉNS MAIS UMA VÊZ POR SEUS TEXTOS. FOI ASSIM COM O SANTOS DE PELÉ, A HUNGRIA DE 54, O BRAZIL DE 58, 62, 70 E 82, O FLAMENGO DE ZICO E CIA, A MÁQUINA DO FLU, DE RIVELINO, PAULO CÉSAR, MÁRIO SÉRGIO E CIA, O CRUZEIRO DE TOSTÃO, DIRCEU LOPES E CIA E A ACADEMIA DE ADEMIR DA GUIA, DUDU, LUIS PEREIRA, QUE FORAM CAPAZES DE VENCER O SANTOS DE PELÉ, A HOLANDA DE 74 QUE REVOLUCIONOU O FUTEBOL. MUITOS DESTES, TIVE A OPORTUNIDADE DE ASSISTIR. AH, ACRESCENTARIA O INTER BICAMPEÃO BRASILEIRO DE 75/76, DE FALCÃO, FIGUEROA, PAULO CÉSAR CARPEGIANI E C IA. VIVA O FUTEBOL ARTE ! A PROPÓSITO, JÁ PENSOU 2 " BARCELONAS" SE ENFRENTANDO. A DECISÃO DE BRASILEIRO MAIS INCRÍVEL, QUE ASSISTI FOI INTER X CRUZEIRO EM 75, 1 X 0 PARA O INTER, GOL DE CABEÇA DO FIGUEROA. O GOLEIRO DO INTER ERA O LENDÁRIO MANGA, AQUELE QUE O JOÃO SALDANHA BOTOU PARA CORRER COM UM REVÓLVER. POIS BEM, O NELINHO COBROU UMA FALTA, QUE A BOLA FEZ UMA SINOPSE. O MANGA, NÃO ME PERGUNTE COMO, JÁ NO AR ESTAVA FAZENDO UMA PONTE PARA UM LADO E EM PLENO AR, A BOLA MUDOU DE DIREÇÃO E O MANGA, CONSEGUIU MUDAR O LADO E FAZER A DEFESA. LÓGICO QUE ISTO LHE CUSTOU UMA ENTORSE NA COLUNA. NO ANO SEGUINTE PELA LIBERTADORES, ESTES MESMOS 2 TIMES PROTAGONIZARAM UM CRUZEIRO 5 X 4 INTER PELA LIBERTADORES, TAÇA ESTA VENCIDA PELO CRUZEIRO, QUE DERROTOU O RIVER PLATE POR 1 X O, EM PLENO MONUMENTAL DE NUNES. O CRUZEIRO SERIA BATIDO PELO BAYERN NA DECISÃO DO MUNDIAL, 2 JOGOS UM NO MINEIRÃO E OUTRO NA ALEMANHA. MAS ESTE BAYERN, BASE DA ALEMANHA CAMPEÃ DO MUNDO DE 74 COM BECKEMBAUER, PERDEU PARA A MÁQUINA DO FLU, NUM AMISTO PROMOVIDO PELO FRANCISO HORTA NUMA 2A FEIRA Á NOITE NO MARACA LOTADO COM OS ALEMÃES NÃO ENXERGANDO A COR DA BOLA. RECENTEMENTE EU DESCOBRI POR QUE A HOLANDA COM CRUIFF EM 74 E SEM O CRUIFF EM 78 PERDEU ESTAS DUAS COPAS E COMO FOI A REVOLUÇÃO QUE A LARANJA MECÂNICA REALIZOU NO MUNDO DA BOLA.
Parabéns!
Belíssimo texto!
Esse time do Barcelona me lembra o lendário time de basquete dos GlobeTrotters – que faziam turnês pelo mundo e encantavam as plateias fazendo muita palhaçada na quadra. Mas a cada exibição eles faziam um tempo (15 minutos) jogando "a sério" – e nesse momento quem estivesse na frente deles simplesmente SUMIA em campo.
Abração.
Davy.
Boa, Davy!
Abraço!
Esse time é nossa grande alegria!!
Bota alegria nisso!