Impossíveis
Um menino nasceu com um dedo a mais no pé. Quando cresceu, passou a gostar de futebol, fez parte de um time, fez amigos, aprendia muitas coisas e se divertia.
Outro menino nasceu com os pés defeituosos de alguma maneira. Eram frágeis, a pisada foi se desenvolvendo amolecida. Quando cresceu, passou a gostar de futebol, fez parte de um time, fez amigos, aprendia muitas coisas e se divertia.
Outro menino quebrou os dedos do pé muito novinho, antes mesmo de começar a pensar em jogar futebol. Ele cresceu e, junto aos amigos, conseguiu entrar em quadra, aprender, fazer amigos e se divertir num time de futebol.
Outro, ainda, parecia muito frágil. Descobriu-se que ele havia levado muito a sério uma brincadeira de mau gosto, de alguém que havia lhe dito, desde pequeno, que com pernas finas nunca conseguiria chutar forte e marcar gols. Quando cresceu, tomou coragem, passou a fazer parte de um time e a chutar forte. Hoje, marca muitos gols.
Um último, nestas histórias, parecia gordinho e desajeitado, mas simplesmente aprendeu a não dar a menor bola para olhares sebosos e, quando se deram conta, ele foi o artilheiro do campeonato. Depois, de quebra, resolveu ser goleiro e fechou a porta do gol com cadeado.
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Em comum, nestes breves relatos, o fato de que os professores que lidaram com essas crianças só foram saber das minúcias, das histórias de vida, em conversas com as famílias – ao comentarem sobre como tais alunos estavam bem nas aulas.
O olhar de um professor quando recebe uma criança tem, dentro dele, a possibilidade de alargar horizontes, desde que esse olhar não esteja, de antemão, impregnado de impossibilidades.
Perceber o amadurecimento e a evolução palpável de um aluno ou aluna é um exercício do olhar a partir das minúcias, de como o fulano chegou e onde ele se encontra no momento.
Saber, pelas palavras dos familiares, dos antecedentes de uma criança depois de algum amadurecimento alcançado só reforça a admiração pelo esforço que cada um deles se impõe em nome do desejo: de ser feliz, de jogar futebol, de fazer amigos.
Com o pé quebrado, com o pé mole, com um dedo a mais, com o corpo assim ou assado.
Porque o músculo do coração, quando encontra um espaço, um olhar, teima em seguir em frente.
Aquele abraço, saudações esportivas