Não estrague a brincadeira
O amadurecimento infanto-juvenil em direção à saúde, física e psicológica, necessita de tempos e espaços nos quais crianças e adolescentes sejam capazes de confiar no ambiente que os cerca. Isso lhes dá (e a todos nós) um grau razoável de tranquilidade, bem como de conseguir prever minimamente o desenrolar das ações em suas vidas. Naturalmente que muitas coisas não são previsíveis, mas o sentimento de caos total desestrutura o psiquismo.
O psicanalista britânico Donald Winnicott (1896-1971) explorou essa ideia no conceito de ‘ambiente suficientemente bom’, ou seja: um lugar (lugares) aonde a atmosfera seja de relativa tranquilidade, que permita às crianças se arriscarem para descobrir a vida, sem no entanto correrem risco severo. A mãe (ou cuidador substituto) é o primeiro ambiente quando nascemos.
Ao crescer e experimentar outros ambientes mais amplos (o quarto, a casa, outras pessoas e lugares e, enfim, a escola), todos vamos nos expondo mais às intempéries da vida. É nessa exploração que testamos nossa confiança, em duas vias – no ambiente que nos cerca e, é claro, em nós mesmos!
Nestes tempos e espaços de vida e experimentação, uma atividade se afigura fundamental para a criança construir um mundo próprio e um sentimento de potência, de criatividade, de bem-viver: a brincadeira. Nela, ao fazer e desfazer construções imaginárias, movimentos corporais e expressões diversas, a criança tem a benfazeja ilusão do controle do mundo, e dá sentido a ele à sua maneira.
É um controle, no entanto, peculiar, dado que consegue misturar realidade e fantasia. Todo mundo sabe quando uma brincadeira fica chata porque fulaninho não respeita as regras (realidade objetiva); ou quando, ao contrário, o jogo fica chato porque sicrano ‘não entrou na onda’, não acessou a fantasia. Brincar é fazer, dizia Winnicott.
É papel do adulto, neste sentido, preservar ambientes suficientemente bons para que as crianças possam brincar e descobrir a si próprias e ao mundo. Um campo de futebol ou um ginásio, por exemplo, podem funcionar como ambientes bons ou ruins para a formação da pessoa. Uma família, uma escola, uma rua, um bairro, um estado, um país, idem.
Longe de deixar a criança apartada da vida como ela é, preservar espaços infanto-juvenis de tensões próprias do mundo adulto significa preservar um lugar seguro, conhecido, que ajuda a sustentar a estrutura emocional de cada um. Crianças e adolescentes são muito sensíveis e vão sentir o ambiente geral dos lugares que vivem naturalmente.
Ao contrário, quando invadem o mundo infanto-juvenil com dificuldades e tensões que não são da alçada dos pequenos, os adultos estragam a brincadeira. Estragam a divisão necessária entre estes dois mundos, que têm seus problemas e desafios próprios. A realidade pode ficar real demais e o espaço pessoal de refúgio e bem-estar se perde.
A violência, sob qualquer forma é, notadamente, um vetor que invade o ambiente e estraga a brincadeira. Os custos emocionais, sabemos, são muito altos e podem ser irreparáveis.
No momento que o País vive, me pareceu um comentário pertinente.
Não vamos estragar a brincadeira.
Aquele abraço, saudações esportivas
#nãoestragueabrincadeira
Obrigada pelo post… Espero de coração que não estraguemos a brincadeira, a violência NUNCA é solução. Um abraço
Muito bom, Rodrigo! É isso aí! Preservar os espaços da infância.
Rodrigo,
Excelente e necessário post, nesses tempos difíceis que se apresentam.
Muito importante mesmo saber conduzir nossas crianças nesse momento.
Parabéns pela iniciativa!
Muito interessante, Rodrigo.Abração.
Rodrigo parabens pelo texto, excelente esclarecimento para que possamos deixar nossas crianças felizes e que se tornem adultos felizes e realizados como pessoas.