Publicidade infantil proibida

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 07/04/2014 |
Categorias: Sem categoria
Prezados (as),

O assunto é sério e exige mais do que simplesmente pensar. Talvez nos cobre uma posição, mesmo. Na última sexta-feira, 04 de Abril, foi publicada a Resolução 163 no Diario Oficial da União, que considera abusiva toda publicidade direcionada às crianças. Entidades de defesa da criança comemoraram. Repassamos aqui o link para quem quiser dar uma olhada com mais calma no texto – vale a espiada para se informar:

http://defesa.alana.org.br/post/81686429505/publicidade-dirigida-as-criancas-deve-acabar

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O blog Chutebol acha que o tema é espinhoso, mas nos posicionamos a favor desta resolução. E por quê?

Bem, a discussão é rica e está em debate há muito tempo a legitimidade deste tipo de proposta. Afinal, não são os pais que devem cuidar dos seus filhos? Não cabe a eles dizer o que pode e o que não pode, discutir sobre as benesses ou futilidades de determinado produto? Não chega a ser uma censura (logo autoritária) impedir as pessoas de terem acesso a determinado produto? Por fim: não seria chamar de burros ou incapazes a todos aqueles que estariam sendo ‘protegidos‘ por esta lei, no sentido de tirar-lhes a liberdade de escolha, após a exposição da empresa/vendedor?

É evidente: todas as respostas a estas perguntas, diante de um pensamento, digamos, liberal, apontam para uma grande bobagem que está sendo feita. E talvez fosse mesmo uma grande bobagem – se a vida pós-moderna não estivesse simplesmente contradizendo um ideal muito distante destes que nos mostram os comerciais. Como assim?

Explico: a publicidade infantil virou um tremendo filão comercial desde a década de ’70, mais precisamente. Com o avanço das tecnologias e dos meios de comunicação, somados ao estilo de vida que levamos (ao menos aqui no Ocidente, do lado de cá da Terra),estilo esse de muita correria e tempo escasso dos pais junto a seus filhos, com tudo isso a criança não fica simplesmente exposta a este ou àquele anúncio. Ela é simplesmente engolida, bombardeada. São trocentas mensagens, cores, sons, imagens, mensagens subliminares, pedidos, demandas. Quantas demandas.

Desde o momento em que levanta, vê tv pra tomar café (ou pro pai poder dormir mais um pouquinho, nada mais justo); daí vai pra escola, muitas vezes já mexendo numa engenhoca eletrônica; passa pelas ruas, shoppings, ônibus com seus ‘leds’; na escola, um festival de marcas, seja na antiga competição velada com os colegas (a marca do tênis, da roupa, a marca da merenda – bem, isso aí não tem jeito, mesmo); volta pra casa, mais tv, vai pro cursinho (que é patrocinado também por marcas), mais engenhoca eletrônica; etc etc etc. Um verdadeiro caldeirão.

Já ouço a voz de uma crítica liberal: “Mas ora bolas, deixe a cargo dos pais proibirem isto ou aquilo!”. Sim, claro. Isto tem de se feito, com ou sem esta resolução. Agora, os pais bem o sabem: é viável a competição do diálogo parental, tentando explicar o por quê de não se comprar aquele produto, quando o rebento passa hoooras do seu dia sendo estimulado por toda sua percepção, quase que forçado (porque para uma criança é dessa ordem, mesmo) a comprar, todo o tempo? As birras homéricas, as verdadeiras batalhas que tantos pais precisam fazer para explicar aos filhos a empulhação em que se transformou a venda da imensa maioria destes produtos- isto não virou um transtorno? Um transtorno sem rosto?

Porque o quadro resultante é esse: uma criança atormentada por um desejo (que no mais das vezes não é genuinamente seu, mas fabricado!); a mãe/pai torturado entre a culpa e a vontade de satisfazer o filhote; e a publicidade lá, bombardeando coisas e cores, como se não tivesse nada a ver com a história, como se o desenvolvimento das crianças não passasse por ela, publicidade, no século XXI. Dá pra competir com o McDonald’s? Com a Nike? Com a Coca-Cola? No século das imagens, qual a potência do discurso parental, monotônico, humano simplesmente, diante de um sedutor mundo da fantasia? A palavra ainda importa?

Então, é claro: os pais vão continuar proporcionando aos filhos a educação em que acreditam. A publicidade sempre existiu e vai continuar existindo, como deve ser. O mundo das imagens aí está, e veio pra ficar. Nós vamos nos reinventando. Mas o vale-tudo (olhaí, outra boa discussão…) no apelo ao chororô infantil, já pesquisado pelas grandes corporações como fator fundamental do ato de comprar, este, em nossa modesta opinião, é interditado em ótima hora.

Não pode valer tudo para vender produtos infantis. É covardia. O filtro mental da criança, seu discernimento moral e psíquico ainda está em formação. Os pais passam horas fora de casa trabalhando, o jogo de forças estava absolutamente desigual. Sabemos que a discussão não se esgota aqui, que há bons argumentos a favor da liberação. Mas neste momento sentimos a necessidade de afirmar nossa posição.

Last, but not least: deixo aqui um link com um pequeno vídeo (um ótimo documentário) e textinho de outra postagem do Chutebol, que são pra lá de esclarecedores:

http://projetochutebol-com-br.umbler.net/2012/01/da-pra-competir-com-publicidade.html

E você, o que pensa sobre tudo isso?

Aquele abraço, saudações esportivas

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4 Comments

  1. Fernanda abril 9, 2014 at 3:50 pm - Reply

    Gostei Rodrigo e concordo.
    Conhece o instituto alana?
    Bj, fernanda

  2. Mário Tagara abril 18, 2014 at 8:55 pm - Reply

    Será q a birra foi criada pela publidade infantil? O desejo da criança por um brinquedo é fabricado? Mas pq entaum na infância eu não tinha interesse em diversos brinquedos, apesar de ser bombardeado pela publicidade dos mesmos????Pq eu não gostava do colorido da fanta??Não se pode fazer tantas generalizações, caro Rodrigo… Tb não podemos defender medidas autoritárias movidos apenas por boa intenção e generalizações….

  3. Rodrigo Tupinambá Carvão abril 18, 2014 at 8:59 pm - Reply

    Olá Mario,

    Me parece que a discussão não se esgota aqui, como escrevi. Teus argumentos fazem sentido, penso sobre isso. No entanto, como coloquei ao final da postagem, o bombardeio de hoje é absolutamente desproporcional, em potência e quantidade, ao que era décadas atrás. E a possibilidade de os pais estarem mais próximos para questionar o consumo junto aos filhos, exatamente pelas exigências da vida contemporânea, também são diminutas. Por isso, pelo contexto atual, essa é minha posição. Mas o risco do autoritarismo existe e deve ser questionado. Tudo isso me parece muito difícil e complexo, mas nossa posição agora é essa.

    Obrigado pelo comentário e um abraço

  4. Rosiane Montes dezembro 15, 2018 at 1:33 am - Reply

    Site muito bom, salvei como favoritos no meu navegador. Ler este tipo de conteudo é muito prazeroso pra mim que sou fã do tema. Segue meu site aberto a sugestões> https://gr3web.com.br

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