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Nelson Motta no Chutebol

Caríssimos,

O blog Chutebol traz um texto interessante do ‘multi’ Nelson Motta, no qual ele se aventura pelo futebol. Como se sabe, o craque Nelson é jornalista, compositor, escritor, e por aí vai… O interessante neste pequeno artigo é uma contextualização histórica do futebol brasileiro ao longo do século XX que, de suprassumo da beleza e eficiência passou, nos últimos anos, a ‘correr atrás do prejuízo’. Para além das posições defendidas, treinadores devem poder escutar jornalistas e vice-versa, como diria o Jardel. O futebol não é de uns, nem de outros. O futebol é da cultura.
A quadratura da bola
“Antigamente, quando o Brasil era um país pobre e atrasado, o futebol tinha enorme relevância não só por ser uma paixão nacional, mas pela crença de que, na falta de outros, tínhamos esse dom para jogar bola como nenhum outro povo do mundo. O futebol era nossa única esperança de excelência internacional, éramos a pátria de chuteiras, era nossa vingança contra o mundo rico e desenvolvido, mas de cintura dura.
Por tudo isso, perder a final para o Uruguai no Maracanã em 1950 teve o peso de uma tragédia nacional, com profundos reflexos na nossa já combalida autoestima. Por tudo isso, a vitória na Suécia em 1958 com Pelé e Garrincha não só maravilhou o mundo como nos redimiu do complexo de vira-lata perdedor e se tornou um marco do desenvolvimento e da modernização nos Anos JK.
Muita bola rolou de lá pra cá, e fomos descobrindo que, além dos temidos e invejados argentinos, jogadores de outros países podiam ter tanta habilidade individual como nós, e muito mais espírito coletivo e tático, como o ‘carrosel holandês‘ de Cruyff e do professor Rinus Michels em 1974.
Hoje em 19o lugar no ranking da Fifa, há anos não ganhamos de seleções de primeira linha, o Santos foi humilhado pelo Barcelona em Tóquio, e qualquer outro time brasileiro, ou mesmo a atual seleção, seria goleado pelo Bayern com facilidade. Em dez jogos contra Espanha, Alemanha ou Argentina perderíamos seis ou mais.
Quando se alterna na televisão os jogos das grandes ligas europeias e do Brasileirão, pela lentidão e violência, pelos gramados carecas, pela pobreza técnica e tática, pelas torcidas selvagens, os nossos parecem jogos da segunda divisão.
A ilusão dos reis do futebol acabou. Mas somos a sétima economia do mundo, nossa agricultura alimenta o planeta, lideramos em várias áreas de produção, nossa música é sucesso internacional, o vôlei e outros esportes nos dão grandes alegrias, temos muitos motivos de orgulho, energia, crédito, divisas, mas enquanto o Brasil, a CBF e a cartolagem ficavam ricos, o futebol empobrecia. Restou a antiga paixão. E o pesadelo de enfrentar a Argentina numa final no Maracanã.”
[Nelson Motta, em O Globo, 26/04/13]

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