Quanto tempo o tempo tem? (1)

Por Rodrigo Tupinamba Carvao
em 04/02/2013 |
Categorias: Sem categoria
Caros (as),

O blog Chutebol está de volta, com a corda toda – mas dando tempo ao tempo! A psicanalista Maria Rita Kehl nos ajuda a refletir sobre a correria da vida (pós) moderna, e nos força a perguntar: quanto tempo o tempo tem?

“O tempo é uma construção social. Toda ordem social é marcada, à sua maneira, pelo controle do tempo; essa talvez seja a face mais invisível e mais onipresente do poder. O tempo, ‘tecido da nossa vida‘ no dizer de Antonio Candido, é também a condição ontológica do psiquismo. A qualidade que define o psíquico não é espacial, é temporal (…). A inclusão da dimensão temporal, sob a forma subjetiva da espera de satisfação, marca a origem do sujeito psíquico.

Aproveitar bem o tempo‘ é um dos imperativos da vida contemporânea, que corresponde a uma série de possibilidades que de fato se abriram para o desfrute da vida privada nas sociedades liberais. O indivíduo dispõe de uma enorme variedade de escolhas quanto ao desfrute de seu tempo livre, não mais regulado pelos ritos e pelas proibições da vida religiosa nem limitado pelas horas de luz do dia ou pelo maior ou menor rigor das estações (…). Por outro lado, a marcação que caracteriza o tempo do trabalho (…) invade cada vez mais a experiência da temporalidade, mesmo nas horas ditas de lazer.
Não me refiro ao ócio, essa forma de passar o tempo tão desmoralizada em nossos dias, mas às atividades de lazer, marcadas pela compulsão incansável de produzir resultados, comprovações, efeitos de diversão, que tornam a experiência do tempo de lazer tão cansativa e vazia quanto a do tempo da produção. Nada causa tanto escândalo, em nosso tempo, quanto o tempo vazio. É preciso ‘aproveitar’ o tempo, fazer render a vida, sem preguiça e sem descanso.

(…) A suposta falta de tempo para o devaneio e outras atividades psíquicas ‘improdutivas’ exclui exatamente aquelas que proveem um sentido (imaginário) à vida, assim como as atividades da imaginação, filhas do ócio (…).

[Adaptado de ‘O tempo e o cão‘, Maria Rita Kehl, 2009]

Compartilhe essa história!

6 Comments

  1. Ana Beatriz fevereiro 7, 2013 at 5:52 pm - Reply

    Lembrei do anúncio da Net que se gaba de mais velocidade e capacidade de transmitir dados. Tudo isso para que o usuário não perca tempo e consiga produzir mais (posts, fotos, diálogos…)
    As outras empresas, não tão velozes, são desvalorizadas com um Tipo Net…
    Sempre brinco que funciono no modo Tipo Net, e procuro não me seduzir com toda essa urgência.

  2. Bruno fevereiro 8, 2013 at 11:22 am - Reply

    O meu tempo, o seu tempo e o tempo formal, que padroniza, iguala e atropela.
    Muito bom.

  3. Carol Carvão fevereiro 8, 2013 at 11:25 am - Reply

    Quanto tempo o tempo tem? O seu tempo!
    bjs

  4. Rodrigo Tupinambá Carvão fevereiro 8, 2013 at 11:26 am - Reply

    Pois é Bia, isso pra mim já virou questão de saúde mental, sabia?
    Acho que você está certíssima!
    bjão

  5. Rodrigo Tupinambá Carvão fevereiro 8, 2013 at 11:28 am - Reply

    Perfeito Bruno, é isso mesmo, o tempo que atropela, massifica…

  6. Patrícia fevereiro 19, 2013 at 9:10 pm - Reply

    Investi um tempo lendo…rsrs
    ela é ótima
    bjs

Deixe um comentário

  • Registro: Torneio Interno Julho/2013

    Prezados Torcedores Responsáveis, O Torneio Interno de Julho de 2013 […]

  • Alongamentos

    Caros (as), Publicamos texto esclarecedor do nosso professor Gustavo Lopes, […]

  • O rei está nu!

    Caros, Trazemos logo abaixo a lúcida entrevista que o novo […]