Solidão adolescente
Daí que muitas vezes este susto chega até os ouvidos do professor como uma queixa, um choramingo, um desconforto ou uma dúvida – “puxa, como fulano mudou, está assim, está assado, introspectivo, não me conta mais as coisas, parece viver no mundo dele… que será que aconteceu?” Dá pra pensar no que quer dizer este mundo próprio, pessoal e intransferível.
No entanto, mesmo ela sendo pop, o sentimento de solidão pode fazer parte de um amadurecimento do sujeito. Pode trazer um enriquecimento da personalidade, pois permite passear em recônditos profundos de si – afetos, memórias, verdades interiores. Experimentar a solidão é, muitas vezes, uma busca autêntica para estar consigo mesmo. Este movimento psíquico tem raízes na primeiríssima infância e pode pedir atualização em momentos críticos; tal movimento tem, como porto seguro, a situação paradoxal de ter estado só na presença de alguém. Digo, se o adolescente em questão tiver podido usufruir de uma segurança parental durante a infância, me parece que a solidão que ora comparece poderá ser vivida como um ganho – se a família compreender este movimento e se mostrar disponível, presente – mesmo que a pessoa em questão necessite ficar recolhida. Como a criança pequena que brinca ‘sozinha’ na presença dos pais e os internaliza em seu coração.
Esta situação, é importante frisar, é completamente diferente da solidão que remete o sujeito a um sentimento de abandono. Talvez o ‘x’ da questão seja exatamente distinguir um do outro, e isto não é tarefa fácil.
Acredito que, atualmente, uma grande fonte de angústia dos pais, diante disto que escrevi, são os encaminhamentos que este sentimento de solidão tem revelado; noutros tempos, para combatê-lo, as pessoas se reuniam mais nas ruas, nas casas, ou mesmo se juntavam para cometer pequenas transgressões comuns à idade. Com a revolução da internet, no entanto, muitas vezes a garotada acaba adentrando o mundo virtual para de lá não sair. Como se não houvesse porta de saída do quarto.
Mas há. O termo que citei é crise ‘de‘ adolescência, e não ‘da’. Da adolescência, não há porque se dizer que está em crise, já que este é seu estado natural. Ao contrário, a crise é ‘de’ adolescência, e tudo o que não se deve fazer é impedi-la. Isto sim, seria travar a pessoa em seu amadurecimento. Dito de outro modo: o essencial da adolescência é a crise, e quem não a viver (com maior ou menor estranheza) provavelmente se ressentirá disto em algum ponto do futuro.
Tolerar, suportar tais fases difíceis estando numa atitude de disponibilidade é a melhor solução que tenho percebido. Ser capaz de lembrar deste período em sua própria vida também ajuda muito. Não se trata de mimar a pessoa ou achar graça no fato de ele ou ela não sair do quarto. Se o adolescente se mostra adolescente, é porque ele pede que o adulto se mostre adulto, e aí cada família se organiza à sua maneira. Apresentar determinados limites e valores da família, aliás, é também uma forma de estar presente. O que não deveria impedir uma certa aceitação se acontecer uma fase de solidão.
Ouvi dizer que o melhor remédio para a adolescência é o… tempo.
Aquele abraço, saudações esportivas
Muito bom! Obrigado
Muito bom, Rodrigo – você está sempre atento a questões muito atuais de pais e filhos.
Rodrigo
Excelente linguagem. Focando os pontos que nos projetamos para compreender o outro e a si mesmo. A fim de prevenir um aprofundamento complexo você alavanca a luz da consciência como pinto de partida para reflexão. Obrigada
Adorei o texto, Rodrigo!
Tudo a ver como momento…
Abraço
Texto excelente!
Parabéns!
Rodrigo,
Obrigada pelo texto. Ótima leitura.
Abs
Muito bom! Grato!
Carlos Eduardo
Adorei o texto, mais uma vez, Rodrigo!
Obrigada por compartilhá-lo!
Um abraço,
Adriana
Puxa Rodrigo, como foi bom ler td isso!!
+ uma vez, obgd pelas palavras, informações e sensibilidade c seus/suas alunos….
ABC
Leana
Rodrigo, adoro seus textos!
Abs,
Paula
Rodrigo,
Mais uma vez: Seus posts aqui são ótimos!! Parabéns pela lucidez, sensibilidade e boa escrita!!
abração
=)
Nossa Rodrigo, este texto se encaixou com uma luva para mim.
Obrigada.