Uma nota sobre o confinamento
O momento grave pelo qual todos passamos impacta um material por excelência do qual a vida de todos nós é feita, qual seja, o cotidiano. Orientados a ficar em casa pelas autoridades médicas e sanitárias, uma profusão de atividades, estratégias, mas também de sentimentos, é posta à prova.
O confinamento, à medida que o tempo vai passando, provoca reações distintas em cada pessoa e grupo social, o que, naturalmente, diz respeito também às condições nas quais cada pessoa / família / grupo social fica confinada.
No que diz respeito às crianças, todo aquele mercado de serviços e produtos oferecidos a elas busca, como nos demais segmentos, adaptar-se aos novos tempos. Em nosso caso, por exemplo, fazer de uma escola de futebol uma escola de futebol online é virtualmente impossível – o que há são adaptações e estratégias para que todos possamos usufruir de uma espécie de simulacro da vida real, manter as relações, preservar o trabalho e, claro, um mínimo de sanidade física e mental.
Um simulacro no entanto é, como o nome diz, uma cópia, uma simulação. Segundo o Aurélio, imperfeita, mas assim são as cópias.
Quero dizer com isso que, por mais que estejamos num esforço necessário e honesto para manter a vida em seus pormenores, há algo do impossível aí. Para as crianças, também.
Além de manter alguma rotina, propor mil e uma atividades e preocupar-se em como elas estão passando por isso tudo, há algo dessa experiência que, simplesmente, não cabe a nós evitar, disfarçar ou… simular. O simulacro pelo qual estamos passando tem seus limites, e o limite mais claro talvez seja a própria dor e sentimento de solidão ao ficarmos confinados.
Quando escrevi, na última postagem, que estes meninos e meninas carregarão consigo uma marca inédita em um século, remetia justamente a essa relação inegociável consigo mesmo num momento como este.
Nenhum serviço, atividade, game ou vídeo irá impedir cada pessoa de viver algo profundamente pessoal nesta experiência. Tentar disfarçar é adiar o problema, quiçá com consequências desagradáveis.
Por debaixo do fenesi virtual, fiquemos pois, juntos. De verdade.
Aquele abraço, saudações esportivas