Aos poucos
A partir dos 06 ou 07 anos é quando o aluno começa a participar das nossas competições, numa ideia de progressão. O primeiro torneio é o ‘Torneio à Vera‘, disputado dentro da própria turma e com uma premiação simbólica (alguém aí comeu muito chocolate esse ano?). Ao longo de 01 mês, (normalmente o mês de Maio), no próprio dia de aula comum, as partidas valem pontos. Isso já dá aquele frio na barriga, um certo acirramento nos ânimos. Daí a importância de estar entre os seus, de poder perder e ganhar lavando roupa suja dentro da própria turma, confrontando o professor muitas vezes – lidando, enfim, com toda a sorte de acontecimentos próprios do enfrentamento. Mas tudo isso diante daqueles com os quais já se convive diariamente. Isso prepara para voos mais altos.
O próximo passo é jogar um Torneio Interno (normalmente em Junho e Dezembro). É ainda um torneio só de alunos do Chutebol, mas já é num dia especial (final de semana); estão presentes alunos das mais diversas turmas, com gente que o jogador não conhece ou não está acostumado a treinar; e tem juiz, troféu, medalha, ginásio cheio, papai na arquibancada e tudo o mais. Quem já jogou sabe como o bicho pega – mas a ideia é que, ao chegar aí, o aluno já tenha tido uma experiência positiva nas etapas anteriores para aguentar o tranco.
A partir dos 10 anos costuma ser, dentro de nossa proposta, o momento em que o aluno passa então a jogar a Copa do Mundo de Futsal – espécie de intercolegial entre diversas escolas e clubes. Algumas vezes montamos 01 equipe da categoria 08 anos, por considerar que já existem alunos em condições. Mas é no registro da exceção, não é a regra. A Copa é um evento maior, disputado ao longo de 04 meses, com jogos contra equipes de fora do Clube. Aí existem categorias (idades) de disputa nas quais o professor ‘convoca’ os alunos para formar as equipes que irão nos representar. Nos baseamos em alguns critérios para fazer esta ‘convocação’.
Em primeiro lugar têm preferência aqueles que estão no limite da idade para cada categoria: 8, 10, 12 ou 14 anos. E, logo em seguida, a percepção, por parte do professor, da bagagem do aluno com relação às etapas anteriores, para a disputa em determinada categoria. Após tudo isso, e só após, vêm os critérios técnicos. Porque fica inviável convocar todo mundo. Não daríamos conta de administrar equipes em demasia; e não é verdade que tooodo mundo tem que jogar. Em nossa experiência, isto é ingênuo e muitas vezes prejudicial à própria criança, que não se encontra ainda em condições de jogar uma competição dura como esta sem o devido preparo.
Ao contrário, o que fazemos é abrir o jogo para toda a turma. Conversamos e explicamos tudo isso aí acima. Conversamos, em casos individuais, para saber como o aluno está se sentindo. Se for o caso, convocamos. Se não, combinamos com ele de treinar forte para disputar a tão sonhada Copa no próximo ano. Mas não jogamos o aluno num vazio. Fica aberta a perspectiva de treinar forte com os amigos, disputar os torneios internos e ter como meta jogar no ano seguinte. Neste ano agora, como de hábito, temos alunos que jogarão a Copa, que ficaram todo o ano passado treinando para isso. É uma conquista. Na imensa maioria das vezes a criança entende, porque as coisas são combinadas e ela é escutada. E não fica melindre nem mimimi porque o fulaninho vai jogar – já que é tudo aberto e feito às claras. Costumamos dizer que cerca de oitenta por cento dos jogadores a partir dos 10 anos jogam a Copa do Mundo de Futsal a cada ano. Quem não jogar num ano, fatalmente terá a preferência (até porque vai atingir a idade ideal) para o ano seguinte.
Finalizando, é preciso dizer que tudo isso é pensado, dentro de nossa metodologia, para que o aluno não se sinta desamparado ou preterido pelos professores. Ao contrário, convocar uns e não outros aponta, ao nosso ver, um respeito à singularidade e ao momento de cada um, na medida em que há um caminho a percorrer. A fantasia infantil de onipotência, no sentido de achar que dá conta de tudo, deve ter como filtro a ajuda do adulto, para que suas experiências tenham este estofo emocional ao encarar a realidade das coisas.
Um ‘agora não‘ pode ser tão acolhedor quanto um ‘vamos pro jogo!‘.
Aquele abraço, saudações esportivas
Rodrigo,
Foi uma delícia ler seu post agora, pois falamos ontem
Algo parecido no jantar.
Até contei hoje pro Thiago pois foi muito bacana, e já queria te mandar o recado também.
Ontem no jantar, Marcela contou que os meninos jogam futebol todo dia no recreio e que ela não joga pois joga mal. Falamos que ela não é obrigada a jogar futebol, mas que se ela quisesse jogar poderia jogar e só jogando ela iria melhorar. Aí o Fernando disse o seguinte: "- marcela, vou te dizer uma coisa que o Rodrigo sempre falava para mim. Ele dizia: Fernando, eu sei que você se acha ruim, e eu também não te acho dos melhores. Mas você, sendo bom ou ruim, pode jogar, como todo mundo. Com isso eu ficava a vontade para jogar, fui treinando, melhorei, fiquei ótimo, e agora, até quando eu jogo com meninos grandes eu me sinto bem."
Rodrigo, foi lindo! Que sorte tivemos de encontrar você e sua equipe!
Mil vezes obrigada!
É realmente interessante como as crianças precisam que as escutemos, e como elas conseguem fazer uso de nossas palavras – se tivermos com elas uma conversa de pessoa a pessoa, né? Valeu!
Rodrigo,
Obrigada pelos seus emails. Gostei mesmo de ler que as turmas dos menores (o meu filho está com 5 anos) não disputam nenhum torneio e que o foco é totalmente lúdico. É justamente o que eu estava procurando para o Luca. Gostei também dos professores que deixam eles a vontade para chutar bolar no começo da aula e todo corre tranquilamente sem ninguem gritando nem mandando …
Parabéns!
Valeria (mãe do Luca Braga)
Oi Valeria, tudo bem?
Muito legal teu retorno! Obrigado pelas palavras.
Realmente, apostamos no brincar para que o esporte seja assimilado de uma maneira mais saudável do que as muitas distorções que temos visto em muitos lugares.
Um abraço pra vocês