Histórias Fantásticas de Futebol (5)
‘Gregory e Dondon’
Às vezes perdia a fome, deixava de almoçar na véspera. A mãe acompanhava, preocupada.
Não era invencível, mas diziam que tinha seus mistérios. Como quando jurava que não levaria gol deste ou daquele adversário.
Fazia disso uma promessa para si mesmo.
Como jogavam na mesma liga ao longo do ano, enfrentavam-se algumas vezes. Os resultados eram equilibrados, perdiam e ganhavam em frequências parecidas.
Mas uma coisa não mudava: Gregory não levava gol daquele atacante, Dondon.
Dondon, intrigado, treinou finalização como nunca na semana do jogo decisivo.
De perto, de longe, dentro e fora da área, de bico, de peito do pé, de chapa, de trivela, com jeito e com força, rasteiro e pelo alto.
Estava pronto. Iriam encontrar-se novamente.
A partida seguia equilibrada como de costume, com chances desperdiçadas pelos dois times.
Jogo truncado no meio, com escapadas velozes, os goleiros se alternando com boas defesas.
Dondon jogava bem e comandava seu time, recuava até o meio de campo, distribuía passes longos e se apresentava na área para finalizar.
Ainda não tinha, no entanto, recebido a bola em claras condições de finalizar.
Até que a chance chegou.
Depois da partida, que terminou zero a zero e classificou seu time com o empate, o atacante, já de banho tomado e saindo do vestiário, custava a acreditar no que tinha visto.
No que só ele tinha visto.
Quando o juiz apitou o final do jogo e a classificação de seu time, em meio à alegria dos companheiros, ele correu até Gregory.
– Como você faz aquilo?, perguntou.
– Não sei, apenas faço, respondeu o goleiro, tranquilo.
E deram um abraço, serenamente esportivo.
Ao chegar em casa ficou relembrando a cena, a cena que impediu seu gol.
Quando recebeu a bola na entrada da área, em ótimas condições, buscou o canto oposto do goleiro com um chute forte. Daquela distância, era gol certo.
Já se preparava para comemorar quando, numa reação imperceptível, fração de segundo, viu com os próprios olhos o braço de Gregory aumentar, esticar, literalmente crescer preciosos centímetros, apenas o suficiente para tocar com a ponta dos dedos e desviar para escanteio. Rapidamente voltaram ao tamanho natural.
Dondon não sabe porque fora o escolhido, tampouco porque somente ele conseguiu enxergar que o goleiro fazia crescer sutilmente os membros para defender exclusivamente seus chutes.
Mas finalmente o mistério foi esclarecido e, para uma próxima partida contra Gregory, imaginou a estratégia: ameaçar o chute e rolar a bola para um companheiro marcar.
Era tudo o que podia fazer.
(De Rodrigo Tupinambá Carvão)