Movimento: afeto e prazer
A questão do movimento corporal durante a quarentena tem afetado de forma distinta as famílias, mesmo em nichos sociais próximos. A depender de como cada família cumpre o isolamento social, com mais ou menos saídas, pedaladas ou caminhadas, o estresse pelo confinamento incide com intensidade variada.
Há outros fatores, naturalmente, como a ausência de amigos e do convívio escolar para as crianças e adolescentes, que pode ser minorado com as chamadas virtuais. Tenho tido alguma dificuldade para usar ‘virtuais’, dado que atualmente ocupam o lugar da própria realidade.
De todo jeito, os movimentos cotidianos a que estávamos acostumados não são os mesmos da época pré-pandemia para a maioria das pessoas e isso, com o passar do tempo, pode minar as condições de saúde.
Conhecemos os benefícios das atividades físicas, para todas as idades, no combate a doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, etc. Fortalecimento de ossos e articulações, aumento da frequência cardíaca e da circulação sanguínea (com melhor aptidão cardiorrespiratória) também estão no cardápio.
Vale destacar, com especial importância, a ajuda destas práticas na diminuição do estresse, da ansiedade e no reforço do sistema imunológico. Com a mobilização que ocorre das chamadas ‘células imunes’, responsáveis por combater invasores estranhos ao corpo (bactérias, fungos, vírus), os exercícios, ao ativá-las, acentuam sua circulação pelo corpo – detectando e combatendo os agentes externos de forma mais eficaz.
Pensando nas crianças, talvez a grande dificuldade tenha sido a dissociação entre prazer e movimento. O sentido de ‘fazer pela saúde’ é pobre para muita gente, em especial na infância – quando o desejo fica separado do movimento, dado que o entorno da sala de casa é incomparavelmente mais pobre que a quadra, o campinho, a praia. Não há termo de comparação em qualquer das variáveis (ambiente, pessoas, estética, espaço, possibilidades).
Imaginamos, assim, que a ponte de aproximação deste universo perdido seja justamente o afeto. A possibilidade de alguma relação afetiva com o movimento pode estar em ver os amigos fazendo; os professores fazendo; e, por quê não?, os familiares fazendo também. Essa é uma construção que está sendo experimentada por todos nós.
Como profissionais da área, buscamos alternativas neste ‘campo afetivo’, e nos pareceu importante dividir com as queridas famílias que nos acompanham.
Até que possamos retornar ao prazer da quadra.
Aquela, real.
Aquele abraço, saudações esportivas
(Por Rodrigo Tupinambá e Gustavo Lopes)