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O luto da infância

Na convivência com adolescentes, é comum percebermos uma espécie de retorno de alguns comportamentos infantis que já poderiam ser dados como resolvidos, ou amadurecidos.

Não é raro algum familiar buscar um professor ou professora, atônito, procurando entender e sem saber o que fazer com o fulano ou a fulana que “está se comportando como criança“.

Percebam que não estamos apontando uma crise de adolescência, um tema novo, um drama que soaria mais próprio à idade (relações amorosas, desempenho escolar, saúde mental etc) – mas uma espécie de recaída na infância.

Ocorre que essa revivência da infância, que muitas vezes exaspera o adulto no cotidiano, costuma ocorrer como um luto da infância.

É o momento em que cai a ficha de que agora não tem volta, não é mais o fulaninho ou a fulaninha que vai poder contar com papai e mamãe pra quase tudo; que o lugar de uma queixa é visto com paciência mais larga; que uma camada de proteção mais grossa foi retirada.

Fica cômico, certas vezes, um rapaz ou uma moça já com traços mais esguios apresentando comportamento notadamente infantil.

O que estou chamando de luto da infância é a despedida definitiva, e pode ser um processo doloroso. A necessidade de afirmar (ou negar) identificações parentais,  bem como os conflitos que surgem daí, costumam ser pano de fundo para muitas queixas e dramas aparentemente sem sentido.

O sentido, no entanto, reside justamente na fantasia de perder um lugar especial, um lugar amoroso – um lugar, enfim, no coração dos pais. O que significa crescer, para o fulano ou a fulana? Ficarei em desamparo? Agarrar-se violentamente ao lugar infantil é muitas vezes a alternativa encontrada, sem que o próprio adolescente perceba.

Que fazer?

No mais das vezes, acolher. Acolhimento, sabemos, pode ser reapresentar certos limites – a necessidade infantil de saber que os pais / a família vão continuar ali, mesmo que eu faça bobagens. Pode ser uma boa conversa, que pode desaguar num choro de alívio. Neste sentido, não há fórmula pronta.

É importante, no entanto, poder desconfiar de tais infantilidades e apontar que sim, você está crescendo; e sim, isso é maravilhoso, mesmo que doa.

E nós continuaremos ao seu lado, apenas de outra maneira.

Aquele abraço, saudações esportivas

This Post Has 2 Comments

  1. Começando a entrar nessa fase por aqui…
    Acho que além de acolher é importante enxergar a beleza que existe, no fato do seu filho estar se transformando em outra pessoa, né?
    Porque a gente ouve muito que a adolescência é uma etapa em que eles ficam chatos e feios. Eu acho bonito! É a vida caminhando ♥️

    Bjo

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