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Os dinossauros de Nova York

Caríssimos,

Transcrevo abaixo artigo que achei pertinente sobre a educação, mais especificamente no que diz respeito a um embate entre forças conservadoras e progressistas – no sentido de podermos refletir sobre até onde um debate como este pode chegar… Lá vai!
“Duas semanas atrás o Departamento de Educação da cidade de Nova York publicou o edital de licitação para a elaboração anual dos testes de avaliação para cerca de 1,1 milhão de alunos da rede pública de ensino. Típica não notícia. Ou algo de interesse restrito às empresas do ramo.
Este ano, contudo, estava todo mundo de olho – pais, alunos e professores das quase 1700 escolas da cidade, além de políticos locais, lideranças educacionais, religiosas e representantes de minorias. Menos de dois meses antes, estavam em pé de guerra. E não era para menos.
Foi no final de março que o tablóide ‘New York Post’ publicou uma notícia estarrecedora para a cidade que se orgulha de ser a mais cool do planeta. Num rompante de fundamentalismo politicamente correto, somado à falência múltipla de sensatez, a Divisão de Desempenho Escolar e Apoio, do Departamento de Educação, elaborara um apêndice ao edital de licitação, com uma lista de 50 palavras e conceitos a serem evitados pelas empresas fornecedoras de testes.
(…) Em seguida vinha a lista de palavras e conceitos proibidos, por ordem alfabética. De tão delirante, um gaiato sugeriu que fosse lida em voz alta, pois soaria como um poema da geração beat. Uma mostra abreviada: abuso (físico, sexual, emocional ou psicológico), aniversários, câncer (e outras doenças), catástrofes/desastres (tsunamis e furacões), celebridades, crianças passando por tempos duros, dinossauros, divórcio, evolucionismo, sem-teto, mansões com piscinas, perda de emprego, halloween. Política, música, religião, rock and roll, sexo, escravidão, terrorismo, fugir de casa, ratos e baratas, violência.
Seriam dinossauros capazes de ‘evocar emoções desagradáveis‘? O artigo do ‘Post’ (…) especulava que a inclusão dos simpáticos dinos tão tietados por crianças poderia ser explicada por evocar a Teoria da Evolução das espécies, e portanto aborrecer os fundamentalistas bíblicos que têm no Museu do Criacionismo de Petersburg, no estado de Kentucky, a sua meca. (…) O veto a ‘festas de aniversário’ era um dos mais intrigantes da lista. A dedução feita pela imprensa é de que poderia ofender seguidores das Testemunhas de Jeová, que não celebram aniversários. O ‘halloween’ poderia sugerir paganismo, ‘divórcio’ seria estressante demais para alunos de lares tumultuados e ‘terrorismo’ capaz de assustar moradores da cidade que teve as Torres Gêmeas pulverizadas.
Mas ninguém até hoje conseguiu explicar a exclusão de ‘rock and roll‘.
(…) Passada uma semana de debates e críticas em todas as mídias imagináveis, o prefeito Michael Bloomberg recuou. “Após a reavaliação da nossa orientação inicial e dada a reação dos pais e alunos, eliminamos a lista de palavras não recomendadas”, comunicou.
(…) A palavra ‘educação‘, em latim, significa ação de criar, nutrir, explorar, como lembrou a propósito o professor Sam Wineburg, diretor do Departamento de Educação da Universidade de Stanford. ‘Quer dizer que a garotada aprenderia a respeitar a diversidade de crenças mantendo-se completamente ignorante sobre a existência delas?’, indagou um assustado nova-iorquino em carta ao jornal. ‘Sinto calafrios ao pensar que isso chegou a ser cogitado em Nova York. Imagine-se em que estado está o resto do país’, acrescenta outro.
Dinossauros existem. Até hoje.”
[Texto adaptado, Dorrit Harazim, Jornal O Globo, 17/6/2012]
*É pra rir ou pra chorar?
Aquele abraço, saudações esportivas

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