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Por que o Futebol? – (1)

Caríssimos,
Trago para o blog trechos interessantes de um livro interessante, para fazer refletir sobre as possibilidades de um jogo complexo como o Futebol – e a dimensão que ele pode alcançar na construção das subjetividades.
O que finalmente eu sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…” 
(Albert Camus – Prêmio Nobel de Literatura, 1937)
“Um amigo meu um dia, me perguntou: Por que o futebol? Foi então que comecei a me dar conta de que o futebol tinha sido uma das atividades mais importantes em toda a minha vida. Nem tinha lido, por essa época, a declaração de Albert Camus, supra citada, para mim a expressão de um pensamento profundo, cercado por sentimentos tão intensos e carregados como poucas vezes tive oportunidade de experimentar. Hoje não tenho a menor hesitação em afirmar – o futebol ajudou a formar a minha personalidade, sendo responsável, em parte, pelo caráter guerreiro que adquiri ao longo de sua prática, repleta de lições de disciplina, persistência, criatividade, senso de pertinência a um grupo coeso e solidário.
Tenho certeza de que a sua instituição, na minha vida, teve o mesmo efeito de uma escola onde aprendi lições de humanismo e civilidade. Às vezes de um modo um tanto selvagem porém eficiente. Em qualquer tipo de aprendizado humano ter que transformar uma derrota quase consumada, no último segundo de jogo, numa vitória que tinha tudo para ser e parecer o impossível, é um desafio formidável, um esforço de ampliação do campo do possível, um ideal olímpico. 
E quem consegue explicitar isto melhor do que o futebol? Mas em tantas outras atividades humanas isso também poderia acontecer… É verdade, porém não com tanta propriedade. E posso citar, em favor dessa hipótese, alguns argumentos importantes, baseados, é claro, na minha própria experiência:
1. As peladas da minha infância e adolescência foram jogadas sem a presença de um juiz. O juiz era a consciência de cada um. É verdade que a ausência de uma autoridade plenipotenciária favorecia as discussões e os desentendimentos. Era preciso chegar a um acordo para que tivéssemos uma sequencia natural. Todos estavam interessados nisso. Um verdadeiro exercício de convívio de grupo e, nesses momentos, a palavra de um líder se impunha predominante e de forma sensata, tranquilizadora. O objetivo era manter em cada um os princípios de lealdade e respeito para tornar a lei um conceito internalizado. Tratava-se de um acordo de cavalheiros. Na maioria dos casos, funcionava bem. (continua…)
[Adaptado de ‘O Futebol como Linguagem – Da Mitologia à Psicanálise.’ David Azoubel Neto, 2010] 

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