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Um sonho

Publico abaixo texto de Fred Bellintani, um Chute-Pai que dá a maior força por aqui.
***
Ontem, à noite, eu tive um sonho.

Clique na foto e procure um abraço apertado na arquibancada. 27/11/2016

Sonhei com a final da Copa Sul-Americana.
Sonhei que todos se confraternizavam e cantavam a uma só voz.
Sonhei com um estádio sem divisão de torcidas e de torcedores.
Sonhei com torcedores que recebiam rivais com flores e roupas brancas.
Sonhei que torcedores rezavam por seus adversários e faziam minutos de silêncio.
Sonhei com uma celebração de amor, de vida e de solidariedade.
Sonhei que a minha casa, no Rio de Janeiro, era transferida para o estádio Atanásio Girardot, em Medellín, na Colômbia.
Sonhei que prefeitos e líderes se esqueciam de seus orgulhos políticos e enalteciam as qualidades do clube visitante.
Sonhei com lindos discursos de amor, paz e esperança.
Sim, eu sonhei com a torcida gritando o nome do adversário e torcendo por ele, apesar de eu nunca ter visto isso antes.

O sonho já estava bom. Mas eu sonhei muito mais que isso.
Sonhei que a torcida entoava o grito de guerra do time adversário.
No meu sonho, o estádio lotado gritava “Vamos, Vamos, Chape”.
Sonhei que duas nações viravam uma só.
Sonhei que nascia uma nova família, a família Braso-Colombiana.
Sonhei que todas as mães e avós e tias da Colômbia passavam a ser as mesmas mães, avós e tias que estão no Brasil.
Sonhei que todos os colombianos se importavam comigo e com os brasileiros.
Sonhei que as crianças colombianas vestiam uniformes da Chapecoense e desfraldavam a bandeira brasileira.
Sonhei que essas crianças soltavam balões brancos em homenagem a brasileiros imortais.

(27/11/2016 – um pai, de azul, animado na arquibancada)

Ontem à noite, eu sonhei que todos os paradigmas futebolísticos que aprendi, em 48 anos de vida, eram modificados.
Sonhei que um clube colombiano abdicava de um título máximo de futebol em favor de seu rival brasileiro.
Sonhei que todos os brasileiros passavam a torcer por esse clube daquela noite em diante.
Sonhei que os conceitos de gentileza, cortesia, esportividade, justiça, fair play, solidariedade e futebol teriam que ser redefinidos a partir daquela noite.
Sonhei que não havia mais ódio entre torcedores.
Sonhei que era possível a fraternidade entre dois times de futebol.
Sonhei com a melhor e mais verdadeira campanha de paz que já se viu.
Sonhei com uma aula magna de comunicação social.

Sonhei que um clube de futebol fazia revolução com flores e orações.
Sonhei que brasileiros eram homenageados com mensagens de carinho e respeito.
Sonhei que milhões de seres humanos esqueciam projetos pessoais e se ajudavam mutuamente.
Sonhei com gestos explícitos de amor e carinho.
Sonhei que eu era abraçado, acolhido e consolado por um povo que nem me conhecia.
Sonhei que taxistas faziam corridas gratuitas, por solidariedade.
Sonhei que a esperança renascia em corações incrédulos.
Sonhei que o ser humano voltava a ser humano.
Sonhei com a “perfeita alegria” de que falava São Francisco.
Sonhei que todas aquelas homenagens tinham a força de uma celebração religiosa.
Sonhei que tudo isso era tão celestial e harmonioso que a partida de futebol nem foi realizada.

Sonhei com uma lição de paz contra a intolerância religiosa e o terrorismo.
Sonhei que as pessoas se importavam com a dor de seus semelhantes.
Sonhei que o mundo finalmente encontrava seu rumo.
Sonhei que o futebol de verdade estava além das quatro linhas.
Sonhei que futebol era um pretexto pra melhorarmos o mundo.
Sonhei que, com o futebol, podíamos fazer o bem sem olhar a quem.
Sonhei que o futebol era o caminho para a paz mundial.

(04/12/2016 – melhor goleiro do Torneio Interno)


Nesta noite, nesta inesquecível noite, eu sonhei que Deus visitava um estádio de futebol.
E, sim, eu sonhei que Ele era colombiano.
Mas tudo isso era só um sonho.


(Fred Bellintani, 01 de dezembro de 2016)

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